A acolhida nos ritos iniciais da celebração eucarística

13/10/2016 às 08h34

A celebração Eucarística é por excelência o “sacramento da unidade”, “lugar” de encontro com Cristo, “Palavra do Pai” e “Pão” que sacia a fome e revigora o discípulo missionário para a missão. É muito importante estarmos atentos à maneira de conduzirmos os Ritos iniciais, para ajudar a assembleia litúrgica a vivenciar e a concentrar naquilo que é a Celebração: renovação e atualização do Mistério Pascal, ato central da nossa salvação, expressando e aperfeiçoando o ser da Igreja.

Iniciando a Celebração Eucarística, basta o canto de entrada. Não há necessidade de um “comentário” antes dele, é o que orienta o Missal Romano, retomado pela CNBB (Cf. Documento de estudo nº 79. A música litúrgica no Brasil. Ed. Paulus. P. 135).

A Liturgia não é uma ação individual, somos todos celebrantes. É a Igreja, povo sacerdotal, que celebra, portanto, evitemos expressões do tipo: “vamos acolher o presidente” etc. Isto denota um sentido de que ele celebra e a assembleia litúrgica assiste. Mesmo em comunidades muito “infantilizadas”, onde for realmente necessário, apenas convide: “irmãos (ãs) entoemos o canto de entrada”, ou outras palavras. Naturalmente quando for uma missa radiada, podemos dizer que a Missa será presidida pelo padre fulano, apenas para orientar os ouvintes.

O refrão meditativo, antes do canto de entrada, foi introduzido como estratégia para criar um clima orante, de interiorização e silêncio, enquanto não se inicia a Celebração. O Canto de entrada, organizado nos primórdios da Igreja, indicando uma ideia mestra da caminhada rumo ao “altar” para o início da celebração, deve ligar-se à liturgia da Palavra e ao seu sentido e tem por função acompanhar o rito, portanto, deve cessar quando o sacerdote chega à cadeira presidencial ou, no caso da missa solene, quando termina a incensação. A Antífona tem uma função análoga ao canto de entrada. Em linguagem musical é o “motto” ou “motteto”, que exprime a ideia fundamental e sintetiza o mistério celebrado. Na falta do canto de entrada, a antífona não deverá deixar de ser rezada (cf. IGMR 26).

A procissão de entrada, expressa a Igreja peregrina neste mundo, se dirigindo ao altar do Senhor para louvá-Lo e suplicá-Lo. O caminhar processional não é uma andar comum, mas cadenciado e harmonioso. Esta procissão não tem o sentido de acolhimento, pois não acolhemos o presidente da celebração, é ele que, em nome de Cristo, nos acolhe na celebração.

A saudação presidencial à assembleia, em suas várias fórmulas, tem sabor bíblico, sendo inspirada, sobretudo, nas saudações paulinas. O gesto que a acompanha (o abrir os braços do presidente) significa que ele assume o Senhor e o entrega aos fiéis. Trata-se de um grande abraço que deseja envolver toda a assembleia numa saudação de paz.

É totalmente inconveniente, no início da celebração, uma saudação do tipo “bom dia, boa tarde, boa noite”, neste momento. Toda celebração litúrgica está inserida no tempo, porém, não no sentido de tempo “cronológico”, tempo do relógio (kronos), mas de tempo “cairológico”, tempo oportuno (kairós). Vejamos o que diz Schnitzler: “Uma saudação de caráter profano no começo da assembleia sagrada do povo de Deus é de todo inadequada à situação e soa até mesmo falsamente, porque simula uma situação diferente do que ela é na realidade. O sacerdote, nesta oportunidade, se comporta como um comandante que saúda a sua gente; a comunidade é tratada, então, como um clube ou uma tropa, se bem de caráter religioso; a celebração é rebaixada ao nível de um simples encontro” (SCHNITZLER, Theodor. Missa Mensagem de Vida. Paulinas. 1987. P.68).

Em todas as fórmulas de saudação, mesmo na Celebração da Palavra, é importante dizer “convosco” e não “conosco”, pois não se trata de uma doxologia, mas de um diálogo que se inicia. Não é um simples desejo/voto, mas uma realidade. O Senhor está convosco! “É o Senhor” (Jo 21,7), que está convosco.

Quanto ao sentido litúrgico, o Missal Romano orienta que deve ser feito após a saudação de quem preside, em breves palavras: "Após a saudação do povo, o sacerdote ou outro ministro idôneo poderá, com breves palavras, introduzir os fiéis na Missa do dia" (IGMR 29). Nossa Arquidiocese tem se esforçado para implantar o Ministério da Palavra. Acredito que esteja na hora de incentivarmos as comunidades a optarem por fazer o sentido litúrgico no lugar certo e aos poucos acabarmos com o “comentário” antes do início da celebração. Primeiramente porque quase ninguém presta atenção e acaba tornando-se um ruído desnecessário.

Onde for oportuno, juntamente com o Sentido Litúrgico, pode-se fazer a “recordação da vida”, elemento que vem do Oficio Divino das Comunidades, que ajuda a comunidade situar a celebração no “chão da história”. Essa introdução termina sempre com o convite ao ato penitencial.

Pe. Luiz Cláudio Vieira


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