Na perspectiva de quem sofre precisa de força e encorajamento, a Paróquia de São João Batista, de Barão de Cocais, realizou um momento para celebrar a vida e a esperança, em solidariedade às comunidades de Socorro, Tabuleiro, Gongo e adjacências no último domingo (10). Os moradores dessas comunidades foram retirados de suas casas, na madrugada do dia 8 de fevereiro, após a Agência Nacional de Mineração determinar a emissão de Alerta nível 2, risco de rompimento de barragem de rejeitos Sul Superior do Gongo Soco.
Após a evacuação da área, as famílias foram encaminhadas para casas de parentes e para hotéis na região. “Como ficaram todos dispersos, surgiu a ideia de reunir quem desejasse num momento celebrativo e também de confraternização, que alimentasse a alma, o corpo e o coração”, explicou o pároco de São João Batista, padre José Antonio de Oliveira.
Na missa, as comunidades participaram da liturgia ajudando no canto, proclamando as leituras, fazendo preces e depoimentos, partilhando a incerteza dos rumos que suas vidas irão tomar de agora em diante. “A celebração foi muito emocionante e a participação das comunidades foi muito boa”, pontuou o padre José Antonio.
Depois da comunhão, padre José Antonio ressaltou que é preciso que haja, também, justiça para todos. “Que as empresas se responsabilizem pelos danos causados e reduzam os impactos que esgotam nossos recursos naturais”. Ele lembrou, ainda, da importância de ninguém negociar com a empresa isoladamente. “Unidos temos muito mais força e poder de negociação. Além disso, seguindo a orientação do promotor que acompanhou o drama dos atingidos pelo rompimento em Bento Rodrigues e agora acompanha em Brumadinho, recomendou-se que os atingidos evitem negociar diretamente com a Vale, uma vez que ela é muito bem assessorada e tem o apoio da grande maioria dos políticos e autoridades. Seria impossível negociar com ela sem uma assessoria técnica e, sobretudo, jurídica. É uma luta desigual”, disse.
Padre José Antonio finalizou sua fala lembrando que além de profissionais comprometidos, pode-se contar com o acompanhamento do Ministério Público, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e com o Movimento pela Soberania popular na Mineração (MAM).
Após a celebração foi realizado um café partilhado, para que as pessoas pudessem ter um momento de acolhimento, calor humano e desabafar sobre essa experiência que estão passando.
Situação das comunidades
Desde a madrugada do dia 8 de fevereiro moradores das comunidades Socorro, Piteira, Tabuleiro e Vila do Gongo, na área rural de Barão dos Cocais, vivem momentos de espera e incerteza, após o acionamento dos sinais sonoros de emergência. Numa escala crescente de 1 a 3 de risco, o maciço da Vale subiu do nível 1 para o nível 2. As medidas, segundo a empresa, fazem parte do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM).
A mineradora afirma que 205 pessoas foram levadas para hotéis e 188 em casas de parentes em Barão dos Cocais e região. Uma nova inspeção na barragem da Mina de Gongo Soco para avaliação de sua estabilidade em Barão de Cocais está sendo realizada. Ainda não existe data para as famílias retornarem para as suas casas.