Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Fomos criados na misericórdia e para a misericórdia. Jesus foi claro: “Sede misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso” (Lc 6,36-38). Sem Misericórdia surgem atitudes que afetam a harmonia consigo mesmo e com o próximo.A falta de misericórdia gera uma atitude negativa, levando a uma insegurança existencial. Isto provoca muita vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis, ocasionados pela impulsividade ou pela incapacidade de conseguir autocontrolar-se e de se ter uma visão menos deturpada de uma situação que pode e deve ser contornada. Cumpre mostrar o rosto de Deus em todas as situações da vida, na vivência e testemunho da caridade misericordiosa deste Deus que é amor infinito. Isto porque a misericórdia como o amor, deve ser uma ação viva, contínua, dinâmica e concreta. Eis porque são de suma importância as obras de misericórdia pelas quais o cristão vive o preceito de Cristo que o leva a ser misericordioso.
As sete Obras de misericórdia corporais encontram-se, na sua maioria, numa lista enunciada por Jesus na descrição do Juízo Final (Mt 25,31-46). A classificação das sete Obras de misericórdia espirituais tirou-a da Igreja, através dos teólogos, de outros textos que se encontram ao longo da Bíblia e de atitudes e ensinamentos do próprio Cristo. Santo Tomás a elas se refere na Suma Teológica (II-II, q. 32, a. 2). A primeiras das sete obras de misericórdia corporais é dar de comer a quem tem fome. Jesus preocupou-se com a fome dos que O seguiam. A cena da multiplicação dos pães é uma das narrativas mais comoventes: cerca de cinco mil homens comeram à saciedade naquele lugar deserto. As obras sociais da Igreja providenciam alimento através de promoções como as cestas básicas com quilos de comida, sopas servidas com muito amor. É preciso uma luta contínua para que haja da parte dos governantes políticas que afastem a causa da fome e todos os fiéis devem ter o senso da partilha. Em seguida, dar de beber a quem tem sede. Em nossos dias há a necessidade do cuidado com a água que pode vir a faltar por causa do desperdício. Em casa, as torneiras bem fechadas e o uso racional do precioso líquido ao tomar o banho, na cozinha, na limpeza da casa. Usar a vassoura sempre no passeio em frente à moradia e em outros compartimentos da casa, sobretudo na cozinha. Em terceiro lugar, dar pousada aos peregrinos, sobretudo nos dias de hoje todo cuidado é pouco no que tange as pessoas desconhecidas, mas trata-se de receber bem parentes e amigos quando de suas visitas. Incentivar continuamente as políticas habitacionais e as associações que acolhem os sem teto. Apoio ao “Lar dos velhinhos” e outras iniciativas que visam minimizar as dificuldades de quem procura um lugar para morar. É preciso ainda vestir os nus. Jesus exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a) Daí a colaboração com os bazares que são feitos junto às Igrejas e com os Vicentinos que conhecem de perto os mais necessitados. O que estiver inútil no guarda roupa oferecer a estas entidades beneficentes ou diretamente a quem se conhece e não tem como bem se vestir.
Em quinto lugar, visitar os enfermos. Jesus acolheu, socorreu e curou os doentes. Esta obra de misericórdia deve ser exercida em casa ou junto dos parentes e amigos, sobretudo, por ocasião de doenças longas e, às vezes, irreversíveis. Trata-se do interesse pela pastoral da saúde. Estar perto de quem sofre é estar servindo ao próprio Cristo. Ajudar na compra de remédios. Em sexto lugar, visitar os prisioneiros. Jesus foi também taxativo: “Estava preso e me visitaste” (Mt 25,36). É claro que toda prudência é necessária e a visita aos presidiários nem sempre é conveniente. Ajudar, porém, aqueles que se entregam à pastoral carcerária dentro das normas vigentes. Junto das autoridades pode-se influenciar para que haja um tratamento humano aos que erraram e cumprem pena. Finalmente a sétima obra de misericórdia corporal é enterrar os mortos. Está no Novo Catecismo da Igreja Católica: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC § 2300). Ir ao velório de parentes e amigos é sumamente louvável, além do conforto das palavras, as preces diante do falecido têm valor especial diante de Deus e dos familiares. Cuidar dos túmulos da própria família e insistir junto dos governantes para que zelem pelos cemitérios. Importantíssimas também as sete obas de misericórdia espiritual. É preciso um exame de consciência para ver se as temos praticado: Ensinar os ignorantes, dar bom conselho, corrigir os que erram, perdoar as injúrias, consolar os tristes, sofrer com paciência as fraquezas do próximo e rezar pelos vivos e mortos. Pratiquemos tudo isto e estaremos obedecendo a ordem de Jesus: “Sede misericordiosos”
* Professor no seminário de Mariana durante 40 anos.