Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável a sentença de Jesus: “O homem de bem, do bom tesouro do seu coração, tira coisas boas” (Lc 39-45). Antes, numa bela comparação, Ele havia afirmado que a “árvore se conhece pelo próprio fruto”. Daí o valor das boas obras. Nenhuma importância, de fato, têm as palavras se não são seguidas pelas ações virtuosas. De nada adianta se dizer cristão se não se pratica o que o Mestre divino ensinou. Eis porque Ele alertou: ¨Nisto será glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim vos demonstrareis meus discípulos” (Jo 15,8). São Paulo então aconselhou aos Gálatas: “Enquanto temos tempo, façamos o bem” (Gl 6,10). É isto que significa tirar a trave do próprio olho para ajudar o irmão a lançar fora o cisco que se acha no olho dele. Cumpre ser um autêntico discípulo de Jesus para poder irradiar o bem que flui lá do íntimo do coração que se assemelha ao coração de Cristo. Não basta prestar atenção ao que se faz, mas o importante é cultivar sempre o que se deve ser, dado que uma boa árvore não produz frutos maus. Isto porque os frutos resultam da qualidade, da bondade, da força, da saúde, da vitalidade da árvore.
A evangelização se torna eficiente justamente quando os evangelizadores primam pela santidade de vida, pelo bom exemplo. Daí a busca ininterrupta da perfeição cristã em vista a um apostolado eficiente, frutuoso. Trata-se de estabelecer uma base sólida de onde possa raiar o bem na vida das pessoas com as quais se vive. O cultivo da vida interior é condição basilar para o progresso do Evangelho. Ser plenamente cristão para fazer que todos sejam também seguidores de Cristo, dando frutos opimos. Eis porque é preciso sempre verificar as próprias ações fazendo o diagnóstico do estado da própria alma, para não se tornar um servo inútil ou até prejudicial à causa do Reino de Deus. Na carta a Tito, São Paulo descreve o cristão exemplar: que é “irrepreensível, amigo do bem, sóbrio, honesto, moderado, saudável na fé, na caridade, na paciência e no sofrimento, hospitaleiro moderado, justo, santo, equilibrado, ligado à verdadeira palavra tal como está na Bíblia, para poder exortar segundo a sã doutrina e refutar os contraditores”. Ei aí o que é ser uma boa árvore.
Na carta aos Romanos, o mesmo Apóstolo Paulo enumera os maus frutos, como “injustiça, perversidade, cupidez, malícia, homicídio, inveja, discórdia, malignidade, calúnia, arrogância, rebeldia para com os pais, deslealdade, falta de caridade, e de misericórdia” (Rm 1, 25-32). São os péssimos frutos de uma má árvore. Não basta, de fato, ter boas ideias, boas intenções para ser uma boa árvore no jardim do Senhor. É necessário ter consciência do valor imenso dos atos diante de Deus e dos homens. Deve haver uma unidade indissolúvel em o ser e o agir do verdadeiro cristão O que cada um é no seu interior não pode estar dissociado do que ele é no exterior, ou seja, no seu modo de agir. Trata-se de uma exigência da vida evangélica. O modelo foi o próprio Cristo no qual não houve nenhuma distância entre o que Ele ensinou e o que Ele praticou. Jesus fez o que ele disse e disse o que ele fez. É isto o que Ele espera de seu discípulo. Portanto, unidade perfeita entre o nosso ser, nossas palavras e nossos atos, abolida toda e qualquer incoerência. É preciso praticar sempre o bem e não desfalecer, perseverando sem cessar.
Nunca se reflete demais nas palavras de São Tiago: “ Mostra-me a tua fé sem as obras, que eu, por meio das minhas obras mostrar-te-ei a fé” (Tg 2,18). A fé, realmente, sem as boas obras é morta. É necessário estar atentos, mesmo porque o fundo da natureza humana é bom, cada um é capaz de produzir bons frutos. Entretanto, por força das aliciações do inimigo, pela influência perversa dos meios de comunicação social, pelos horrorosos crimes que se multiplicam e são enfaticamente divulgados pela mídia sensacionalista, o cristão corre o risco de desfalecer e pode, infelizmente, aderir ao mal, admitindo o erro e tomando posições frontalmente contrastantes ao que Jesus ensinou e praticou. Todo cuidado é pouco, pois como advertiu São Pedro, o demônio como um leão a rugir anda em derredor do seguidor de Cristo, prestes a devorá-lo (1 Pd 5,8) . É urgente sempre resistir com a potência de uma fé profunda que levará a se praticar o bem e a evitar o mal, valorizando sempre as boas obras.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.