Pe. Geraldo Martins
Há pouco mais de três anos, Mariana e toda a bacia do Rio Doce foram vítimas do maior crime socioambiental do país, provocado pelas mineradoras Vale, BHP Billiton e Samarco, com o rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana. Ainda permanecem vivas em nossa memória as cenas desse crime continuado, assim considerado pelas constantes violações de direitos na luta por justiça dos atingidos e atingidaspela barragem. E o que se previa, lamentavelmente, aconteceu: o crime se repetiu no último dia 25 de janeiro, agora, em Brumadinho e com consequências ainda mais dramáticas pelo número de pessoas mortas.
Antes da tragédia-crime em Mariana, quase não se falava de barragens. Esse assunto ficava restrito a ambientalistas, especialistas e movimentos que, há tempos, questionam a mineração no país como o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Opondo-se a esta mineração predatória vigente no Brasil, que coloca o lucro acima da vida e da natureza, esses grupos sempre foram alvo de ataque das mineradoras e dos que defendem, a todo custo, a mineração em nome do desenvolvimento econômico.
O rompimento das duas barragens com consequências tão trágicas e de alcance incalculável faz aumentar as vozes dos que se colocam contra essa mineração que desrespeita a vida e a dignidade humana e destrói nossa Casa Comum. Impossível dizer, no entanto, se isso trará alguma mudança nessa prática condenável da atividade mineradora.
Para além da responsabilidade das mineradoras proprietárias das barragens que se romperam, é preciso questionar também a responsabilidade do Estado nesses crimes. Afinal, a quem compete liberar a construção ou alteamento das barragens, bem como sua permanente fiscalização? Da mesma forma, os parlamentares devem explicação à sociedade, especialmente, às vítimas das barragens, na medida em que aprovaram leis para atender os interesses das mineradoras em detrimento aos direitos da população.
A comoção provocada pelo crime da Vale, em Brumadinho, capitaneada pela imprensa, faz emergirem inúmeros atores que, indignados e revoltados, manifestam solidariedade aos atingidos, condenam os atuais métodos de mineração, cobram respostas rápidas e eficientes, exigem punição dos culpados. Foi assim em Mariana, depois de 5 de novembro de 2015. No entanto, passados três anos, os atingidos de Mariana contam com as próprias forças e poucos grupos que, de fato, permaneceram ao seu lado, lutando contra as férreas estruturas do poder político e econômico, verdadeiro obstáculoà justiça. Isso também se repetirá em Brumadinho?