Catequese do Papa: o Pai-Nosso educa quem o invoca a não multiplicar palavras vazias

27/02/2019 às 10h49

CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

 

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal (Canção Nova)

 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Parece que o inverno está indo embora e por isso voltamos à Praça. Bem-vindos à praça! No nosso percurso de redescoberta da oração do “Pai Nosso”, hoje aprofundaremos a primeira das suas sete invocações, isso é “santificado seja o vosso nome”.

As perguntas do “Pai nosso” são sete, facilmente divididas em dois subgrupos. As três primeiras têm o centro no “Tu” de Deus Pai; as outras quatro têm no centro o “nós” e as nossas necessidades humanas. Na primeira parte, Jesus nos faz entrar nos seus desejos, todos dirigidos ao Pai: “seja santificado o vosso nome, venha o vosso reino, seja feita a vossa vontade”; na segunda é Ele que entra em nós e se faz intérprete das nossas necessidades: o pão cotidiano, o perdão dos pecados, a ajuda na tentação e a libertação do mal.

Aqui está a matriz de toda oração cristã – diria de toda oração humana – que é sempre feita, de um lado, de contemplação de Deus, do seu mistério, da sua beleza e bondade, e, por outro, de sincero e corajoso pedido daquilo que precisamos para viver, e viver bem. Assim, na sua simplicidade e na sua essência, o “Pai nosso” educa quem o reza a não multiplicar palavras vazias – como o próprio Jesus disse – “o vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós o peçais” (Mt 6,8).

Quando falamos com Deus, não o fazemos para revelar a Ele o que temos no coração: Ele o conhece muito melhor que nós mesmos! Se Deus é um mistério para nós, nós, em vez disso, não somos um enigma aos seus olhos (cfr Sal 139, 1-4). Deus é como aquelas mães a quem basta um olhar para entender tudo dos filhos: se estão contentes ou tristes, se são sinceros ou se escondem algo.

O primeiro passo da oração cristã é portanto a entrega de nós mesmos a Deus, à sua providência. É como dizer: “Senhor, Tu sabes tudo, não é nem preciso que eu te conte a minha dor, peço-te somente que estejas aqui comigo: Tu és a minha esperança”. É interessante notar que Jesus, no discurso da montanha, logo depois de ter transmitido o texto do “Pai Nosso”, exorta-nos a não nos preocuparmos com as coisas. Parece uma contradição: antes nos ensina a pedir o pão cotidiano e depois nos diz “Não se preocupem portanto dizendo: o que comeremos? O que beberemos? O que vestiremos?” (Mt 6, 31). Mas a contradição é apenas aparente: as perguntas do cristão exprimem a confiança no Pai; e é justamente essa confiança que nos faz pedir aquilo de que precisamos sem ânsia e agitação.

É por isso que rezamos dizendo: “Santificado seja o vosso nome!”. Nesta pergunta – a primeira! “Santificado seja o vosso nome!” – sente-se toda a admiração de Jesus pela beleza e a grandeza do Pai, e o desejo de que todos o reconheçam e o amem por aquilo que realmente é. E ao mesmo tempo há a súplica que o seu nome seja santificado em nós, na nossa família, na nossa comunidade, no mundo todo. É Deus que santifica, que nos transforma com o seu amor, mas ao mesmo tempo somos também nós que, com o nosso testemunho, manifestamos a santidade de Deus no mundo, tornando presente o seu nome. Deus é santo, mas se nós, se a nossa vida não é santa, há uma grande incoerência! A santidade de Deus deve refletir nas nossas ações, na nossa vida. “Eu sou cristão, Deus é santo, mas eu faço tantas coisas ruins”, não, isso não serve. Isso faz mal, escandaliza e não ajuda.

A santidade de Deus é uma força em expansão, e nós o suplicamos para que quebre rapidamente as barreiras do nosso mundo. Quando Jesus começa a rezar, o primeiro a pagar as consequências é o próprio mal que aflige o mundo. Os espíritos malignos maldizem: ‘O que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o santo de Deus!’ (Mc 1,24). Nunca se viu uma santidade assim: não preocupada consigo mesma, mas orientada para fora. Uma santidade – aquela de Jesus – que se alarga em círculos concêntricos, como quando se joga uma pedra no lago. O mal tem seus dias contados – o mal não é eterno – o mal não pode mais nos prejudicar: chegou o homem forte que toma posse de sua casa (cfr Mc 3,23-27). E esse homem forte é Jesus, que dá também a nós a força para tomar posse de nossa casa interior.

A oração afasta todo medo. O Pai nos ama, o Filho eleva os braços lado a lado com os nossos, o Espírito trabalha em segredo para a redenção do mundo. E nós? Nós não vacilamos na incerteza. Mas temos uma grande certeza: Deus me ama; Jesus deu a vida por mim! O Espírito está dentro de mim. É esta a grande coisa certa. E o mal? Tem medo. E isso é belo.

 


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