Orgulho execrado e humildade enaltecida

17/10/2016 às 08h47

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Notável pedagogo, Jesus na parábola na qual focaliza um fariseu dominado pela soberba e um publicano a irradiar profunda sensatez retratou com maestria duas posturas contraditórias diante de Deus. Mostrou peremptoriamente a diferença. entre uma prece condenável e um contato verdadeiro com o Ser Supremo. O fariseu na sua altivez se centra em si mesmo faz a pintura de sua grandeza. Manifesta-se como um poço de virtudes. Os outros são “rapaces, injustos, adúlteros”, ele é um herói possuidor de todos os atributos, merecedores de aplausos. Era uma pessoa à parte, inatacável. Sua auto justificação fluía de uma erupção de deplorável narcisismo merecedor de repulsa, pois os seu amor para consigo mesmo raiava as bordas do ridículo. Tudo isto o fazia ignorar seus muitos defeitos, os quais, aliás, projetava nos outros, como acontecia no seu julgamento deturpado do humilde publicano. Ele eliminava os outros para ser o único e exclusivo objeto do amor de Deus. Firmava-se apenas em ações exteriores, mas vazias porque contaminadas pela arrogância com que se posicionava perante Deus o qual, conhecedor de tudo que se passa no íntimo de cada um, via o desequilíbrio de um coração no qual só imperava o mais profundo exclusivismo do próximo. Por isto mesmo ousava fazer uma prece que era uma apologia que dimanava de seu psiquismo viciado. A agressividade marca a oração feita pelo fariseu, inclusive diminuindo a amplidão do coração de um Deus que ama todas as suas criaturas e que conhece o íntimo de cada um, não se deixando enganar pela hipocrisia, pela falsa devoção, pela simulação. Ao contrário, o publicano mantendo-se à distância, não queria nem sequer erguer os olhos ao céu, mas batia no peito, reconhecendo-se um grande pecador. Era um sábio, pois somente, de fato, Deus é perfeito e o ser humano é contingente e sujeito a erros e imperfeições cometidos por sua própria culpa. Ele sabia que não tinha direito de exigir nada de seu Senhor, mas esperava sua clemência e comiseração. Eis porque não se julgava superior a ninguém e confiava unicamente na bondade divina que viera suplicar. Não ostentava a mesquinhez do fariseu. No seu interior havia a aversão ao pecado que impede o verdadeiro amor ao Doador de todas as graças. Podia então numa atitude de verdadeira conversão solicitar que Deus tivesse dele compaixão. Naquele momento ele trilhava o caminho da autêntica paz, pois “Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes ela dá sua graça” (Tg 4,6). Jesus declarou abertamente: “Quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11) e lançou uma norma preciosa: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. (Mt 11,29). O publicano estava matriculado na escola deste Mestre admirável. A humildade é o alicerce da vida do verdadeiro cristão. Este apaga o “eu” e não se deixa dominar pelo egocentrismo. Com isto atrai o amor misericordioso de Deus. Foi o que aconteceu com a Virgem Maria que pôde dizer: “Ele olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48). Como o orgulhoso s é incapaz de amar os outros, o humilde, ao contrário, cheio do amor divino é capaz de envolver o próximo num amor sem limites. Eis porque Maria, a humilde serva do senhor, se tornou a Senhora das graças, tendo se tornado a corredentora da humanidade. O fariseu da parábola não ama seu próximo, mas se limita a julgá-lo. O humilde não se sente maior que os outros e nem os traz a seu tribunal, porque está imerso na misericórdia de Deus e reconhece que em derredor de si há pessoas muito mais santas e virtuosas. Além do mais, levado pela humildade, o verdadeiro cristão reconhece que nunca pratica todo o bem que deveria fazer e, assim, se confia à indulgência divina. A humildade é, verdadeiramente, a porta pela qual entram todas as bênçãos do Senhor Onipotente.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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