Leia na íntegra a catequese do Papa Francisco dessa quarta-feira, 10 de abril:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia! O dia não está tão bonito, mas bom dia assim mesmo!
Depois de ter pedido a Deus o pão de cada dia, a oração do “Pai Nosso” entra no campo das nossas relações com os outros. E Jesus nos ensina a pedir ao Pai: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6, 12). Com precisamos do pão, assim precisamos do perdão. E isso, todos os dias.
O cristão que reza pede antes de tudo a Deus que sejam perdoadas as suas ofensas, isso é, os seus pecados, as coisas ruins que fez. Esta é a primeira verdade de toda oração: ainda que fôssemos pessoas perfeitas, fôssemos santos cristalinos que nunca se desviam de uma vida de bem, permanecemos sempre filhos que ao Pai devem tudo. A atitude mais perigosa de toda vida cristã qual é? É o orgulho. É a atitude de quem se coloca diante de Deus pensando ter sempre em ordem as contas com Ele: o orgulhoso acredita que tem tudo no seu lugar. Como aquele fariseu da parábola, que no templo pensa rezar mas na realidade louva a si mesmo diante de Deus: “Agradeço-te, Senhor, porque não sou como os outros”. E as pessoas que se sentem perfeitas, as pessoas que criticam os outros, são pessoas orgulhosas. Nenhum de nós é perfeito, ninguém. Ao contrário, o publicano, que estava atrás, no templo, um pecador desprezado por todos, para no limiar do templo e não se sente digno de entrar, confia-se à misericórdia de Deus. E Jesus comenta: “Este voltou para casa justificado, e não o outro” (Lc 18, 14), isso é, perdoado, salvo. Por que? Porque não era orgulhoso, porque reconhecia os seus limites e pecados.
Há pecados que são vistos e pecados que não são vistos. Há pecados evidentes que fazem rumor, mas há também pecados ocultos, que se escondem no coração sem que percebamos. O pior desses é a soberba que pode contagiar também as pessoas que vivem uma vida religiosa intensa. Havia uma vez um convento de religiosas, nos anos 1600-1700, famoso, no tempo do jansenismo: eram perfeitas e se dizia delas que eram puríssimas como os anjos, mas soberbas como os demônios. É algo feio. O pecado divide a fraternidade, o pecado nos faz presumir sermos melhores que os outros, o pecado nos faz acreditar que somos semelhantes a Deus.
E em vez disso, diante de Deus somos todos pecadores e temos motivo para bater no peito – todos! – como aquele publicano no templo. São João, na sua primeira Carta, escreve: “Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” ( 1 Jo 1, 8). Se você quer enganar a si mesmo, diga que não tem pecado: assim está se enganando.
Somos todos devedores antes de tudo porque nessa vida recebemos tanto: a existência, um pai e uma mãe, a amizade, as maravilhas da criação… Mesmo que todos passem por dias difíceis, devemos sempre nos lembrar que a vida é uma graça, é o milagre que Deus extraiu do nada.
Em segundo lugar, somos devedores porque, mesmo se conseguimos amar, ninguém de nós é capaz de fazê-lo só com as suas forças. O amor verdadeiro é quando podemos amar, mas com a graça de Deus. Ninguém de nós brilha com luz própria. Há aquilo que os teólogos antigos chamavam um “mysterium lunae” não somente na identidade da Igreja, mas também na história de cada um de nós. O que significa este “mysterium lunae”? Que é como a lua, que não tem luz própria: reflete a luz do sol. Também nós, não temos luz própria: a luz que temos é um reflexo da graça de Deus, da luz de Deus. Se amas é porque alguém, fora de você, sorriu para você quando era uma criança, ensinando-te a responder com um sorriso. Se amas é porque alguém próximo a você te despertou para o amor, fazendo-te compreender como nisso reside o sentido da existência.
Vamos tentar ouvir a história de qualquer pessoa que errou: um preso, um condenado, um drogado…conhecemos tanta gente que erra na vida. Salvo a responsabilidade, que é sempre pessoal, pergunte-se alguma vez quem deve ser culpado pelos seus erros, se somente a sua consciência, ou a história de ódio e de abandono que alguém carrega consigo.
E este é o mistério da lua: amamos antes de tudo porque fomos amados, perdoamos porque fomos perdoados. E se alguém não foi iluminado pela luz do sol, torna-se frio como o terreno de inverno.
Como não reconhecer, na cadeia de amor que nos precede, também a presença providente do amor de Deus? Ninguém de nós ama Deus quanto Ele nos amou. Basta colocar-se diante de um crucifixo para entender a desproporção: Ele nos amou e sempre nos ama primeiro.
Rezemos, então: Senhor, mesmo o mais santo em meio a nós não cessa de ser teu devedor. Ó Pai, tende piedade de todos nós!
Tradução: Jéssica Marçal (Canção Nova)