Amar como Jesus amou

13/05/2019 às 15h00

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Evangelho do quinto domingo da Páscoa deparamos o início do testamento espiritual de Jesus. Judas acabava de sair para se lançar nas trevas da traição e do desespero. Então, mais do que um discurso Cristo abre o seu coração numa conversa afetuosa com seus discípulos (Jo 13,31-35). O Pai iria glorifica-lo e, portanto, próximo estava o dia de sua partida deste mundo. Como legado Ele deixa para seus seguidores um mandamento novo. Glorificação do Pai porque o Filho manifestaria todo o seu amor, tendo amado os homens até o fim. Depois de sua morte, o Pai acolheria seu Filho bem amado na sua própria glória. Ele partiria deste mundo, mas um liame bem claro ficaria entre Ele e seus seguidores: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros, que assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros”. Jesus apresenta um preceito que Ele diz novo. Isto embora no Livro do Levítico, Deus já tivesse ordenado: “Tu amarás teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Não obstante, tratava-se de um preceito novo, porque promulgado na nova aliança, aliança definitiva que Ele selaria, justamente pela sua morte e sua glorificação. O modelo do nosso amor ao próximo ficaria sendo o amor de Jesus por nós: “Como eu vos amei, vós deveis, vós também, amar uns aos outros”. Seu amor tinha um fundamento que lhe dava uma característica única, ou seja, Ele se sacrificaria por todos porque os recebera do Pai. Na oração feita por Ele ao Pai isto ficou bem claro: “Manifestei o teu nome aos homens que me deste, separando-os do mundo. Eram teus e os destes a mim, eles guardaram a tua palavra. [...] Quanto a mim dei-lhes a glória que tu me comunicaste, para que sejam um como nós somos um” (Jo 17, 6.23).  Nestas palavras rebrilha uma fraternidade nova, alicerçada numa nova concepção da dileção divina. Adite-se que Ele nos amou até o fim, quando se sacrificou no alto da cruz por toda a humanidade. Portanto, o amor ao próximo não deveria ter para seus discípulos nenhum limite. Como consequência o cristão deveria amar a todos indistintamente a começar dos mais próximos que são os que habitam sob o mesmo teto, os companheiros de trabalho ou dos lugares de diversão, enfim numa fraternidade universal, abrangendo inclusive os inimigos, envolvendo-os num laço de um perdão cordial. Este aspecto Ele deixou bem ressaltado na prece por Ele ensinada: “Perdoai-nos como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Por tudo isto, mandamento, de fato novo cuja prática deveria florir no serviço, na esperança, na paz. Isto sem querer seu discípulo enquadrar os outros em seus moldes mentais, manipulando o próximo ou simplesmente retribuindo às suas atenções. Além disto, interessando-se cada um pelas misérias alheias, apesar de das suas impertinências, das suas importunações. Mandamento novo a exigir devotamento, fidelidade, gratuidade. Amor, portanto, realista que se manifesta no cotidiano. Com este mandamento novo Jesus inaugurava um novo estilo de vida, uma nova atitude, tanto que Ele asseveraria: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros”. Jesus deixou como herança a seus seguidores um mandamento expresso num imperativo decisivo: “Amai-vos”. Tal a sua herança e a missão que dava para todas as etapas da vida do cristão. Amar, porém, como Ele ensinou nem sempre seria fácil, porque amar supõe total desinteresse pessoal.  Amar é um ato que se dirige ao próximo que deve ser reconhecido como outro, respeitando-se sempre as diferenças. Assim cai por terra todo egoísmo. O amor como Jesus ensinou leva a entrar na fragilidade do próximo, passando por cima de suas vulnerabilidades. Isto supõe renúncia e abnegação contínuas. Esta atitude resulta então da certeza de que, assim praticando a caridade, se pode participar da verdadeira vida que é comunhão com Deus, o qual é amor, Esta dileção paira longe da sensibilidade, tornando-se uma responsabilidade, fruto de um mandato que repousa sobre o exemplo do Mestre divino. É deste modo que se reconhece que a palavra chave do cristianismo é o amor. Esta caridade é obra prima do gênero humano regenerado pelo sangue de um Deus. É o que há de mais nobre nas elucubrações da inteligência e o que existe de mais glorioso nos eflúvios do coração. Sacrificar-se pelo próximo. Ir de encontro de toda dor, de toda amargura, de todo desatino. Diminuir a estatística do sofrimento. Aumentar a crônica do bem. Irradiar por toda parte felicidade, serenidade, harmonia. Tudo isto é a maior manifestação da grandeza humana, o apogeu da perfeição evangélica, a atitude mais agradável a Deus, o ápice da perfeição do ser racional. A caridade é assim esplendorosa porque tem dimensões divinas.  Envolve pensamentos, atitudes, palavras. Sorri com os alegres, pranteia com os tristes. Perdoa, desculpa e exalta as qualidades do outro. Faz do pecador um santo e eleva este santo a Deus. Ela ameniza, cura, distribui do muito, do pouco, “se faz tudo para todos para salvar a todos” (1 Cor 9,22). Onde resplandece assim a caridade, aí Deus está.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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