Padres das cidades de Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Itabirito, Mariana e Ouro Preto participaram de uma formação sobre mineração e barragem na manhã desta sexta-feira (17) na Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, em Itabirito (MG). O encontro foi assessorado pelo professor João Henrique Rettore, da PUC-Minas, e faz parte da sequência de reuniões entre os padres das cidades que possuem mineração.
Durante a sua fala, o professor João apresentou algumas implicações técnicas e ambientais das barragens. Segundo ele, a apropriação que a sociedade faz do meio ambiente ainda é errada. “Temos tecnologia para não construir barragens. Mas, temos estruturas, como a do sistema hidrelétrico, que ainda precisa de barragens”, disse.
O professor também pontuou que uma das dificuldades no Brasil é o fato de muitas barragens nem serem cadastradas. “Muitas barragens não possuem cadastros. Elas são administradas pelos donos das terras. O que gera um grande problema, pois não existe fiscalização”.
O descomissionamento das barragens foi outro ponto citado. Paulo afirmou que sempre que se fala em descomissionamento de estruturas de mineração está se falando de uma espécie de recuperação ambiental. “Temos maneiras diferentes de fazer recuperação ambiental das mais diversas estruturas que são criadas na mineração. Essas estruturas diversas pedem ações diferentes para recuperação. Quando se fala de descomissionamento, as empresas estão jogando a conversa, em primeiro lugar, para o lado da barragem. Elas não estão falando de descomissionamento ou de desmonte de quaisquer outras estruturas. Em segundo lugar, precisamos observar que tipo de ação vai ser usada para descomissionar ou recuperar o meio ambiente. No caso de barragens podemos tentar recuperar a área de várias maneiras. Algumas dessas maneiras saem mais barato para a empresa. Outras são mais interessantes para o meio ambiente e a comunidade local. Então, precisamos saber qual é o alcance deste descomissionamento e como ele será feito”, explicou.
Ele também sublinhou que essa recuperação não é um favor a comunidade, mas uma obrigação da empresa. “Quando se fala da abertura de uma mina o seu fechamento também deve ser planejado. Então, o descomissionamento é obrigação das empresas”, disse.
A importância do trabalho de conscientização foi outro ponto citado pelo professor. Precisamos ressignificar a nossa relação com a atividade mineradora. Enquanto tivermos essa relação desequilibrada teremos problemas. Por isso, ambientes como esse são fundamentais para pensarmos e avaliarmos a atividade mineradora”, afirmou.
Para o coordenador arquidiocesano de pastoral, padre Edmar José da Silva, esses debates são importantes. “A Igreja tem se envolvido nesta questão da mineração porque o que está em jogo é a questão do cuidado com a vida humana e com o planeta, chamado pelo Papa Francisco de ‘nossa casa comum’. Tudo está interligado. A exploração predatória dos recursos naturais, como vem acontecendo atualmente, não respeita a vida que, para o cristianismo e a igreja, é o valor maior”, disse.
Padre Edmar ressaltou que o papel da Igreja é dar apoio e acompanhar os que foram atingidos pelas tragédias do rompimento das barragens, além de trabalhar a conscientização. “Temos que conscientizar todos os homens de fé e de boa vontade sobre as consequências nefastas da exploração dos recursos naturais que não coloca em primeiro lugar o desenvolvimento integral da pessoa humana, mas o lucro. A Igreja deve ser esta instância ética e humana que questiona o modo como as grandes empresas estão usando e explorando os nossos recursos naturais”, afirmou.
Para dar prosseguimento e juntar forças no debate sobre a mineração nas cidades da arquidiocese, o grupo agendou uma nova reunião para junho, em Mariana (MG).