Um dia para ficar na história

21/05/2019 às 13h41

As manifestações de rua desse 15 de maio se tornaram um marco para ser registrado na história do Brasil. Não só pela magnitude numérica, mas sobretudo pela magnitude de significado. Foi uma surpresa das mais positivas, até para os organizadores.

Quero pegar carona em um belo artigo do jornalista Mauro Lopes, publicado no site Brasil 247, e chamar a atenção para alguns detalhes, que são bem mais do que detalhes. Ele faz uma comparação entre as manifestações pelo impeachment de Dilma e as de agora. As diferenças são gritantes.

Desta vez, não havia ódio contra ninguém. Uns desejando a morte de outros. Não havia bonecos ou xingamentos como naquelas manifestações. Tratava-se de uma causa, a defesa da educação. A polícia não estava nas ruas para proteger agressores, embora tenham agredido pessoas de paz, como em Porto Alegre e no Rio.

Lá, como também na campanha eleitoral, havia uniforme, as camisas amarelas da seleção brasileira. O amarelo de quem ‘amarela’ na hora da luta. Havia ‘patos’ aos montes. Em todos os sentidos. A predominância absoluta era de pessoas brancas. Praticamente uma única expressão religiosa, o cristianismo fundamentalista. A maioria foi na onda da mídia. Muitos nem sabiam porque estavam lá.

Desta vez não. Houve colorido; roupas de todas as cores. Gente de todas as raças, culturas e expressões religiosas. A maioria esmagadora era jovem, mas havia também idosos e crianças. Uma verdadeira colcha de retalhos. A cara do Brasil. Predominância do feminino, quando das outras vezes sobressaía o masculino, expressão do patriarcalismo e do capitalismo selvagem.

Nada de misturar Deus com violência e bíblia com armas. Não é necessário falar o nome de Deus quando se busca a vida de qualidade para todos(as), porque Ele é o Senhor da Vida. No lugar da arrogância das elites, as mãos dadas do povo: “Ninguém solta a mão de ninguém”. Em vez de ataques à história, a busca confiante pela educação, pela cultura, pela arte, pela Vida. Mistura de luta e festa, de resistência e alegria. E Mauro Lopes resume tudo isso como uma linda expressão: foi uma verdadeira espiritualidade plural e de paz.

Que venham outras manifestações como essa. Não com o espírito de revanchismo ou de intolerância, mas para garantir que as camadas mais necessitadas sejam prioridade nas decisões políticas, e não uma elite cruel que não se contenta em ter muito, mas tem raiva de ver o povo conquistando uma vida melhor. Para garantir que educadores sejam tratados com respeito, sejam valorizados e incentivados, e não considerados inimigos. Onde a seguridade social seja uma questão de honra para os que legislam e governam, e não um peso a ser assumido somente pelos trabalhadores, ou uma forma de aumentar os lucros de banqueiros.

Como diz o grande educador Paulo Freire: “Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica”. Isso não virá de graça. Mas será fruto de muita luta, coragem, teimosia, persistência, união e organização. Há um longo caminho a percorrer...

Pe. José Antonio de Oliveira


Voltar

Confira também: