A cidade de Barão de Cocais, na Região Pastoral Mariana Norte, vive um clima de incertezas e apreensão desde que foi anunciado que o talude norte da mina do Gongo Soco pode desabar e causar o rompimento da barragem de rejeitos Sul Superior até o próximo domingo (26). Caso esse novo crime socioambiental aconteça a previsão é que cerca de seis mil moradores ribeirinhos serão atingidos e que a lama possa chegar até o centro comercial da cidade.
“O clima está tenso e a insegurança está grande. Estamos todos com medo. A cada dia é uma novidade que traz mais desespero, principalmente nos evacuados. Temos medo de perder tudo que construímos ao longo da vida. Mas, em meio a tanto medo, ainda existe uma chama acesa que é nossa fé e nossa esperança que Deus está agindo e que tudo vai passar e que a barragem não vai se romper”, disse Elida Geralda Couto moradora da comunidade de Socorro.
Elida explica que a falta de informação por parte da empresa é outro problema enfrentado. “Criamos uma comissão dos evacuados com os representantes das quatro comunidades e estamos indo atrás das informações. Infelizmente, 99% das nossas demandas e dúvidas não são esclarecidas”, pontua a moradora.
O pároco da Paróquia São João Batista, padre José Antônio de Oliveira, explica que com o rompimento da barragem comunidades históricas de Barão de Cocais serão atingidas. “As comunidades de Socorro e Gongo Soco pertence a nossa paróquia e serão atingidas. Socorro é uma comunidade histórica. É praticamente onde nasceu Barão de Cocais. A igreja é tombada e a imagem da padroeira, Mãe Augusta do Socorro, é raríssima”, disse.
Segundo o padre José Antônio o clima é de muita tensão e insegurança. “Caso haja um rompimento, os rejeitos cairão no Rio São João, que atravessa outras comunidades, além do Socorro, e atravessa toda a cidade. O Fórum, escola, famílias que ficam na zona de risco estão sendo transferidos. A tensão maior é para pessoas idosas ou com dificuldade de se locomover. Aumenta o número de atendimentos psicológicos e médicos. Muita gente com depressão. A cidade sente muito o impacto. O comércio, as escolas, tudo”, afirma o presbítero.
Desde fevereiro, cerca de 450 moradores dos distritos próximos a barragem já foram retirados de suas casas. Eles foram levados para hotéis da região e agora estão sendo encaminhados para casas alugadas na cidade. Padre José Antônio ressalta que as imagens e demais objetos artísticos ou históricos das igrejas das comunidades também foram retirados e trazidos para a cidade.
O pároco acrescenta que desde o primeiro momento que as famílias foram retiradas de suas casas a Igreja tem acompanhado os atingidos. “Logo após a retirada dos moradores de Socorro, Gongo, Piteiras e Tabuleiro foi realizada uma missa no Santuário São João Batista, para a qual todos foram convidados. Infelizmente, quem estava em Caeté não pôde vir. Na celebração tivemos a presença de agentes da Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), que passaram algumas orientações, no sentido de os atingidos se unirem, se organizarem, evitando individuais com a Vale e priorizando as negociações coletivas, com assessoria de profissionais e do Ministério Público. Isso não tem funcionado tão bem, porque a Vale impõe muitas barreiras”, disse padre José Antônio.
Sempre que possível pessoas ligadas à Igreja estão fazendo visitas às famílias nos hotéis e participando das reuniões e audiências. “Além desse acompanhamento, procuramos levar esclarecimentos e conforto, através da mídia. É claro que poderíamos fazer muito mais”, acrescentou o pároco.
No dia 16 de junho, segundo dia da novena do Padroeiro, todas as comunidades atingidas são convidadas para uma celebração especial e um momento de confraternização após a missa.