“Do conflito à comunhão: juntos na esperança”

29/10/2016 às 00h19

Dia 31 de outubro marca o início das comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante, que dividiu a cristandade ocidental. A comemoração dessa data sempre foi marcada por acusações e conflitos. Mas, graças a Deus, as coisas mudam. Desta vez, o Pontifício Conselho para a Unidade, da Igreja Romana, e a Federação Luterana Mundial escreveram em conjunto um artigo sobre o evento, valorizando os passos dados na busca do diálogo.

E, certamente, o gesto mais significativo da cerimônia de abertura é a presença do papa Francisco na Suécia, em Lund (para uma oração em comum) e Malmö (evento público). Francisco já havia manifestado esse desejo. Assim, pela primeira vez na história, Católicos e Luteranoscomemoram juntos, em nível mundial, a Reforma.

No artigo escrito em conjunto, fica claro que o monge Martinho Lutero, quando em 1517tornou pública a sua oposição à prática generalizada de venda de indulgências, o fez com base nas suas convicções teológicas e espirituais, e não tinha a intenção de iniciar uma nova Igreja. Mas o contexto complexo de convulsão social, política e econômica acabou tomando outras proporções e desdobramentos, dando início a uma onda de desentendimentos, conflitos e violência, que ainda perdura.

O que motiva essa comemoração conjunta é, em primeiro lugar, a convicção comum de que há mais coisas que unem católicos e luteranos do que aquelas que os dividem; e que, mediante o batismo, todos são chamados a ser um só corpo. Chamados a assumir juntos a evangelização e a caridade, além de suportar unidos as perseguições e obstáculos do caminho.

Por tudo isso, é muito significativo o lema escolhido para essa celebração: “Do conflito à comunhão: juntos na esperança”. A comemoração conjunta traz consigo uma tríplice marca: ação de graças, arrependimento e compromisso. Segundo o artigo conjunto publicado, precisamos dar graças a Deus pela Palavra e suas novas formas, como por todos os dons da Reforma e da caminhada comum. O arrependimento é pelas divisões, pela perda da unidade, pelo sofrimento gerado por todas as disputas e “guerras religiosas” que daí vieram. Mas o maior fruto dessa comemoração deve ser o compromisso com o testemunho comum “da alegria, da beleza e do poder transformador da fé, especialmente no serviço aos pobres, aos marginalizados e aos oprimidos”.

Esse testemunho deve se expressar de modo especial na misericórdia, que é experimentada e deve ser oferecida. Um gesto concreto é a assinatura de um acordo de cooperação entre uma Entidade luterana, que atende atualmente mais de 2,3 milhões de refugiados, e a Caritas Internacional, presente e atuante em 164 países. A proposta é a de oferecer “um serviço compassivo e amoroso ao próximo em um mundo ferido e fragmentado por conflitos, violência e destruição ecológica”.

Muitos outros representantes ecumênicos também se unem a luteranos e católicos com o intuito de deixar para trás o conflito e se voltarem para um futuro comum, buscando cada vez mais se aproximar do seu Senhor e Salvador comum Jesus Cristo; permanecer em diálogo; renunciar aos conflitos, ao ódio, à violência, às memórias obscuras. Em suma, passar do conflito à comunhão, trilhando o caminho juntos e com esperança.

Pe. José Antonio de Oliveira


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