Atingidos aguardam resposta da Renova pela segunda vez

19/06/2019 às 16h48

Atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão aguardam, mais uma vez, por uma resposta da Fundação Renova em relação à segunda proposta de verba assistencial temporária aos garimpeiros e pescadores, que estão em situação de vulnerabilidade e esperam pelo processo de cadastramento para receberem o auxílio emergencial por perda de renda. Na reunião realizada na manhã desta quarta-feira (18), no Centro Arquidiocesano de Pastoral, em Mariana, a empresa deu resposta negativa à reivindicação da reunião da semana passada, que solicitava contribuição para a subsistência das famílias atingidas.

“A resposta da Renova é de que eles vão começar o cadastramento destes garimpeiros e pescadores em agosto, com a previsão de terminar antes de novembro. Depois disso, eles vão ver o que essas pessoas têm direito a receber, se é um auxílio com cartão ou se uma situação de cesta básica ou outra coisa. As pessoas vão passar fome por mais alguns meses. É isso que a Renova está colocando”, aponta a integrante do Movimento dos Atingidos por Barragem, Letícia Oliveira.

Diante da negativa, os atingidos presentes na reunião, acompanhados da assessoria técnica da Cáritas e da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), apresentaram outras propostas à empresa, que ficou de dar a resposta por e-mail até a próxima segunda-feira (24). A primeira, negada de imediato, é um pedido de assistência financeira a um grupo prioritário que está em situação de vulnerabilidade extrema, a ser indicado pelos próprios atingidos. A segunda é a de conceder o valor de uma cesta básica, com valores baseados no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mais 20% por dependente. “Devido aos vários problemas que os atingidos já tiveram com relação ao fornecimento de cesta básica pela Renova, a câmera técnica, pediu que a cesta básica possa vir em dinheiro”, explica Caromi Oseas, assessora técnica da Cáritas.

 

Entenda o caso

Cerca de 650 garimpeiros e pescadores da Bacia do Rio Doce aguardam pelo cadastramento para receberem o auxilio emergencial por perda de renda, a qual tem direito. Desde o dia 3 de junho, um grupo ocupa o Escritório da Fundação Renova, em Mariana, por não ter recebido uma resposta da carta contendo 19 pontos de reivindicações. Atualmente, uma média de 100 pessoas permanece no local, mas durante o dia há um fluxo maior de pessoas.

Os pescadores e garimpeiros das regiões de Mariana e Barra Longa passam por dificuldades financeiras, por não poderem exercer mais o seu ofício. “Eu preciso da ajuda porque estou com dificuldade de por alimento dentro de casa, dificuldade com saúde da minha filha, que não passa três dias sem ir ao médico. Ela está a dois meses tomando remédio controlado, uma menina de 16 anos. O rio que a gente tinha pra garimpar não tem mais. É só lama", relata Clodomiro de Castro, de Acaiaca, que foi arrastado pela lama enquanto trabalhava a 4km de Bento Rodrigues. Sua filha guarda o trauma de imaginar o pai sendo levado pela onda e, desde o rompimento da barragem em Brumadinho, sente mais medo.

Clodomiro vai e volta para a ocupação todos os dias. Simone Silva, de Barra Longa, está no escritório desde o primeiro dia e quando precisa sair, retorna no mesmo dia. Ontem (18), ela voltou para casa e precisou pedir alimento emprestado para preparar para o marido e seus dois filhos. “Eu tive que pedir arroz, feijão e óleo emprestado para deixar para eles e poder vir continuar na luta. É revoltante demais ter que se humilhar por uma cesta básica. Enquanto antes você tinha vida, tinha tudo lá, cada um no seu canto. Barra Longa nunca foi dependente de mineração. E hoje a mineração nos tirou tudo. Tirou nossa saúde, nossa dignidade”, diz.

A arquidiocese de Mariana continua fazendo a mediação entre os atingidos e a Fundação Renova. “Não conseguimos avançar no ponto mais importante, que é o auxilio emergencial para os garimpeiros que estão passando necessidade, estão perdendo sua renda, não tem dinheiro para comprar alimento, pagar aluguel. Infelizmente não avançamos neste ponto”, explica padre Geraldo Martins.


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