Côn. Tarcísio Sebastião Moreira
O mês de novembro, na Arquidiocese de Mariana, é um tempo escolhido para trabalharmos a Pastoral do Dízimo, mais intensamente, em nossas paróquias e comunidades; trabalhar, dinamizar, formar novos agentes, mas acima de tudo, buscarmos o verdadeiro e real sentido desta pastoral na vida da igreja.
O Dízimo não é um meio de captar recursos financeiros; não é uma fonte para aumentar as receitas; recursos e receitas são consequências de um belo projeto de pastoral onde a sua centralidade está na vida de comunidade e na própria Palavra, na Eucaristia e na Caridade. Viver em comunidade é nos libertar do egoísmo, do individualismo; é buscar uma configuração da nossa vida à vida de Jesus que, de forma incondicional, amou profundamente a criação do Pai e doou a sua vida plenamente em prol do Reino.
Pastorear o rebanho tendo o dízimo como um dos eixos da evangelização, com sua espiritualidade própria, eis o grande desafio. É preciso levar as pessoas a fazerem uma experiência de encontro com Jesus, estreitar a sua relação com Deus a partir do outro, do próximo, na busca do totalmente Outro, nosso Deus e Pai; a vida de comunidade nos despe do orgulho, nos despoja de nós mesmos e nos faz pensar no bem comum, na partilha que nos faz solidários. Em outras palavras, as dimensões Social, Religiosa e Missionária do Dízimo nos inserem nesta dinâmica do Reino, resgatando a dignidade dos mais pobres (dimensão social), fazendo frente às necessidades da Igreja para melhor servir (dimensão religiosa) e investindo nas diversas frentes pastorais (nossa missionariedade)
Leiam o que nos diz o profeta Malaquias: “Trazei, pois, o dízimo para a casa do Senhor, para que haja alimento em minha casa; depois, então, vereis se não vos abrirei os reservatórios do céu e se não derramarei sobre vós as minhas bênçãos muito além do que precisais” (Ml 3,10).
“...para que haja alimento em minha casa...”; a casa do Senhor é a nossa casa comum, que precisa ser cuidada, para que não falte pão na mesa dos seus filhos! Nesta palavra, o Senhor nos convida a fazermos uma experiência com Ele; por meio do dízimo, nos chama a abrirmos o coração, pois Ele nos cumulará de todas as bênçãos e graças que precisamos. É uma promessa divina a ser cumprida na vida daqueles que acolherem a sua palavra. Deus promete, por meio do profeta, a abrir as portas do céu e a derramar suas bênçãos sobre aqueles que estiverem dispostos a caminharem com Ele na partilha de seus bens, cuidando desta casa comum, onde “todos tenham vida e vida plena”.
Vocês acreditam nesta possibilidade? O coração aberto para doar está muito mais preparado para receber. Já um coração ensimesmado, orgulhoso e apegado, não tem espaço para Deus agir e morre agarrado ao que tem. Portanto, a experiência do dízimo nos liberta do egoísmo, nos liberta da avareza e nos faz filhos livres na promoção da vida e da esperança, de forma solidária. Isto significa viver em Deus e com os irmãos, na comunidade de fé.
Agora, permitam-me dizer: se o dízimo é um caminho de evangelização e tem sua espiritualidade própria que estreita nossa relação com Deus, a nossa oferta não pode ser somente uma quantia em dinheiro. Deus quer mais de todos nós: Ele quer o dízimo do que temos e o dízimo do que somos. Fazer a oferta do dízimo do que temos é separar, da nossa receita mensal, o que o nosso coração pede para ofertar. Isto é relativamente simples de se fazer, mas Deus quer mais! Ele quer também o dízimo do que somos, ou seja, o dízimo dos nossos dons, talentos e carismas; o dízimo do nosso tempo, etc. Mas como ofertar o que somos? Abraçando as pastorais e estando com a Igreja, sendo Igreja em nossas comunidades, na luta pela construção de mundo novo, cuidando das coisas do Pai; zelando pela vida nesta casa comum de todos!
Na comunidade de fé podemos discernir: Sou músico? Vou para a Equipe de animação das celebrações; Gosto de trabalhar com as crianças? Vou ser catequista, agente da Pastoral da Criança; prefiro a Pastoral Familiar? A Comunicação? A Liturgia? Que ministério posso exercer? Venham participar, venham ser Igreja. Na sociedade, também posso ser um agente de transformação, também posso fazer a diferença, na militância política, na luta pelos direitos humanos, na defesa da dignidade dos povos; posso ser um agente político que se deixa guiar pelos valores e virtudes do Evangelho, que trabalha pelo bem comum, que luta em defesa da vida; organize-se; vá para os conselhos paritários do município; filie-se a um partido que tenha essas bandeiras de valorização da vida e de defesas dos direitos das pessoas...
Se todos os católicos, que frequentam as missas nos fins de semana, oferecessem o dízimo do que tem e o dízimo do que é, nós teríamos uma Igreja mais viva e mais dinâmica, mais animada e acolhedora, mais participativa e misericordiosa. Uma Igreja mergulhada nas “periferias existenciais”, “uma Igreja em saída”, comprometida com os pobres, os excluídos, os sem vez e sem voz!
A pastoral do dizimo deve nos levar a este compromisso com a Palavra, com o Reino e a Vida; nossa partilha tem um significado mais pleno quando descobrimos que podemos fazer a diferença na igreja e no mundo. Somos irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai que nos chamou à Vida para sermos sinais da sua presença onde a vida acontece!