Sua vida, seu testemunho!

27/07/2019 às 18h39

A morte, como a vida, é sempre uma surpresa! Seja qual for a circunstância que a envolve, vem sempre acompanhada de dor, tristeza, lágrima. O consolo vem da esperança que nos faz crer na ressurreição de Cristo, vencedor da morte e de todo mal.

Este é o pensamento que vem à minha mente ao receber a pesarosa notícia da páscoa de nosso grande irmão e companheiro, padre Ernesto, ocorrida neste sábado, 27 de julho, em sua querida terra natal, Pitangui (MG). Soube que estava na prelazia de Altamira, no Xingu, no estado do Pará, em missão. Sentindo-se mal após alguns dias de missão, voltou para Pitangui nesta semana, mas seu estado de saúde se agravou, sendo internado na sexta-feira, 26/7, no hospital da cidade. Não resistiu e faleceu na manhã deste sábado, pegando a todos de surpresa. Aliás, padre Ernesto foi sempre surpreendente!

No exercício de seu ministério presbiteral, sobressai o testemunho de amor e de serviço aos pobres com os quais se identificava através de uma vida simples, desapegada, pobre. Sua espiritualidade, inspirada no Irmão Carlos de Foucauld, tinha o evangelho como fonte primeira e única, buscando o último lugar, vivendo o anonimato, gritando o Evangelho com a vida, fazendo o apostolado da bondade, adorando Cristo na eucaristia, servindo os pobres.

A profecia também sempre esteve presente na vida e no ministério do padre Ernesto. Tomado de indignação, revoltava-se contra o sistema político-econômico que governa o país, gerando pobreza e exclusão, alimentando a gritante desigualdade social que caracteriza o Brasil. Somava-se sempre às multidões que se colocavam nas ruas e praças para gritar contra as injustiças e a perda de direitos da população mais vulnerável. No último dia 2 de junho, lá estava ele misturado aos mais de sete mil romeiros/as que se encontraram em Itabira (MG) para a 4ª Romaria das Águas e Terra da Bacia do Rio Doce, organizada pela Província Eclesiástica de Mariana.

Seu grande sonho era ver a Igreja cada vez mais comprometida com os pobres e as causas populares, despida de poder e de luxo, a exemplo de seu fundador, Jesus Cristo. Falava com entusiasmo do papa Francisco que, pela palavra e pelo testemunho, tem provocado a Igreja a retornar às fontes na vivência do Evangelho e na sua opção pelos pobres. Seu engajamento na pastoral carcerária o levava a gritar com convicção por um mundo sem prisões, utopia do Reino que Jesus mostrou presente entre nós.

Na liturgia, usava de ousadia e criatividade incomuns, com grande capacidade de ligar a Palavra com a vida. Toda reflexão que fazia era extremamente provocativa, inquietando a todos que a ouviam. Sabia ler as entrelinhas do evangelho como poucos. Dom de Deus! Sentiremos falta também disso!

Vamos sentir muito a ausência do padre Ernesto. É claro que, de junto do Crucificado-Ressuscitado e ao lado dos/as mártires da caminhada, ele continuará conosco. Seu exemplo e testemunho nos acompanharão sempre. Seu sorriso, seu companheirismo, sua determinação e seu amor às causas do Reino são uma herança da qual seus amigos e companheiros desfrutaremos com a alegria de quem crê na Páscoa dos que fizeram de sua vida uma entrega constante a Deus.
Vá em paz, padre Ernesto, na alegria que sempre o animou, embalado pela canção do poeta e amigo Zé Vicente: “Vidas pela vida/ Vidas pelo reino /Vidas pelo reino. / Todas as nossas vidas/ Como as suas vidas/ Como a vida dele/ O mártir Jesus”.

Pe. Geraldo Martins


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