Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Na solenidade de todos os santos a liturgia leva os fiéis a refletirem sobre as Bem-aventuranças (Mt 5,1-12), É que os santos compreenderam plenamente que ser feliz é reconhecer a Deus como única felicidade e foram, assim, bem-aventurados. Entretanto, a ventura que Jesus descreve não é segundo a medida dos valores humanos, nem segundo a sabedoria terrena. Supõe, ao contrário, uma ruptura com os critérios mundanos e isto como condição para se atingir a santidade a qual se contempla em todos aqueles que estão por toda a eternidade lá no céu. Deste modo, as bem-aventuranças são a descrição daqueles que já conquistaram a glória eterna, especificando os aspectos de suas existências nesta terra. Eles devem ser imitados por aqueles que ainda estão a caminho da Jerusalém celeste. Cristo mostra que felizes não são aqueles que possuem a abundância de riquezas, mas os que suportam com paciência as adversidades; os que conservam a mansidão em todas as circunstâncias da vida; aqueles que procuram a justiça, ou seja, que fazem em tudo a vontade divina; quem tem compaixão, imitando a misericórdia da Deus; os que não se deixam macular com as paixões desregradas; aqueles que são profetas da paz. Por tudo isto, muitas vezes eles são perseguidos, injuriados, mas se alegram porque seus nomes estão no rol dos que se candidatam a entrar na casa do Pai. Tudo isto aconteceu com os santos não porque eles se privaram de algo que é bom oferecido pela bondade de Deus ou se viram sempre em situações dolorosas, mas porque em tudo estavam unidos ao seu Criador, observando seus desígnios em todos os momentos e circunstâncias. Amaram a vida, mas a amaram não através de vulgares prazeres e míseras ambições. Amaram-na pelo que a existência neste mundo tem de importante, de grande, de divino. Há, portanto, em cada bem-aventurança alguma coisa de radical que estrutura a verdadeira felicidade a qual se radica no Senhor Todo-poderoso. Porque Deus é a herança dos santos, porque a pátria verdadeira é o céu onde se verá o Ser Supremo face a face, é que se deve procurar ser feliz dentro dos parâmetros estabelecidos por Cristo. Os santos foram ditosos na alegria ou na tristeza, na pobreza ou no bem-estar, dado que viveram initerruptamente em função de Deus o qual a eles bastava. Por isto imitaram a misericórdia divina e tiveram o coração aberto às misérias alheias para aliviá-las. Foram puros uma vez que observaram o sexto e o nono mandamentos à risca e não se deixaram contaminar pelas aliciações lascivas suscitadas pelo espírito do mal. Compreenderam e viveram a máxima estabelecida por Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. Procuraram então ter um coração grande como o do Deus no qual pulsa um amor infinito. Eis aí o que propõe a solenidade de todos os santos. São eles não apenas os que foram canonizados e estão nos altares das Igrejas, mas tantos parentes e amigos nossos que retrataram em suas vidas as bem-aventuranças registradas por São Mateus. Todos eles estão a mostrar que, de acordo com o Evangelho, a felicidade consiste em ter Deus como o bem supremo, único, suficiente. Eles nos convidam a ter uma vida conforme os ensinamentos bíblicos e não como as estapafúrdias visões de um mundo divorciado da verdade, imerso nos vícios, na voluptuosidade e em toda espécie de corrupção. Os santos foram luz do mundo e sal da terra e estão a nos recordar o conselho do Mestre divino: ”Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, a fim de que, vendo as vossas obras, glorifiquem vosso Pai está nos céus” (Mt, 5,16). Que então a proclamação das bem-aventuranças possa significar a essência mesma da vida do verdadeiro cristão, pois a felicidade íntima de cada um é proporcional à largura e à profundidade de sua fé. É preciso saber viver o que Jesus nos propõe. Ele quer uma atitude decidida de nosso coração, de todo o nosso ser que se concentra na vontade de Deus para poder estar com Ele um dia lá no céu por todo sempre na companhia de todos os santos.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.