Contra o extermínio da juventude negra, a Pastoral Afro-Brasileira e diversos parceiros realizaram um acampamento na Escola Família Agrícola Paulo Freire (EFA), em Acaiaca, para debater sobre o tema. Dos dias 11 a 13 de novembro, jovens da Arquidiocese de Mariana se reuniram para refletir sobre preconceito e o grande número de jovens negros que morrem no Brasil.
No início das atividades a metáfora da semente foi apresentada para incentivar os participantes a pensarem sobre o que querem colher no acampamento. Com um pouco de terra e água, os jovens plantaram as sementes em comunhão com as expectativas para o evento. Em seguida as conversas foram pautadas a partir do histórico da violência contra a negritude desde 1979 até os dias atuais.
O tema “Pelo fim do extermínio da juventude negra” foi abordado em cinco grupos de trabalho: Cultura, Gênero e Religiosidade, Participação Popular, Mulheres, Educação e Segurança Pública. A integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros de Viçosa, Beatriz Gomes, escolheu o grupo “Educação” para aprimorar os seus conhecimentos como pedagoga e apreender estratégias para passar os dados apresentados para frente. “Estar nesse evento hoje é mais que um espaço de compromisso pessoal e sim de compromisso social. É tão difícil a gente encontrar um espaço para discutir sobre o extermínio da juventude negra. E todos os dias a gente tem que se preocupar com a própria vida e com a vida dos nossos amigos com medo de que nós entremos nas estatísticas”, ressaltou.
Para o diretor da EFA, Gilmar de Souza, o fato da Escola Família Agrícola ter como plano de fundo a construção interdisciplinar e coletiva torna ainda mais forte o papel da EFA em sediar o acampamento. “Faz parte da formação integral do jovem aprofundar essas temáticas como questões sobre a juventude, violência, cultura popular, os negros na sociedade e muito mais. Se a gente não trabalhar a identidade do jovem, a cultura do jovem é muito difícil chegar em outros lugares”, afirmou.
Cerca de 130 jovens participaram da inciativa e Ana Beatriz Mendes da cidade de Ouro Preto foi uma delas. Pela primeira vez no acampamento a jovem acredita que a oportunidade foi boa pra entender um pouco mais sobre a realidade do povo negro e sobre a realidade do país, já que no encontro é possível conversar com várias pessoas. Maxileia Romão, amiga de Ana Beatriz, é membro da Pastoral Afro-Brasileira e afirmou que o acampamento é importante para esclarecer sobre o genocídio negro para as pessoas e reforçar que o povo negro não tem que se sentir excluído na sociedade. “ Todos nós temos uma lugar no mundo”, acrescentou a jovem.
Outros pontos também fizeram parte das discussões como o incentivo à luta do movimento negro e os desafios de entrar em contado com a juventude que não está tão próxima da causa. Ao final do acampamento, foi montada uma comissão, composta por 14 organizações, que será responsável por desenvolver um documento que englobe todas as propostas sugeridas ao poder público sobre o fim extermínio da juventude negra.