Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No Advento ressoa a vós de São João Batista em mais um alerta na preparação para o Natal: “Convertei-vos” (Mt 3,1-12). Mensagem sublime a ser acolhida para que se possa receber as graças natalinas. É de se notar que o Precursor pregava no deserto da Judéia. Na Bíblia o deserto é sempre uma terra desabitada. Portanto, os que queriam escutá-lo tinham que caminhar até ele numa região solitária situada a alguns quilômetros de Jerusalém ou de Belém. Eis uma primeira lição a ser observada. Como se lê na tradução da Vulgata, “non in commotione Dominus” – “Deus não se acha na agitação” (1 R 19,11). Isto significa que cumpre escutar a palavra divina no deserto do coração, no silêncio de uma reflexão profunda e numa disposição de sair do comodismo. Neste caso é possível a conversão, a qual não é um mero mudar de mentalidade, mas uma marcha decisiva, corajosa para Deus. Muitas vezes se pensa que a conversão é um instante especial de uma grande graça, mas ela é bem mais do que isto. Com efeito, se a conversão é um instante de uma grande bênção do céu, é mais ainda um encaminhamento, uma nova maneira durável de pensar, de agir, de ser. Além do arrependimento de faltas passadas, é, sobretudo, uma peregrinação de amor que projeta o cristão para Deus. Coloca-o no rumo certo do Reino daquele que comunica paz e alegria. Trata-se da submissão integral à autoridade soberana do Criador de tudo, o qual enviou o seu Filho a esta terra com a missão messiânica de abrir as portas de uma felicidade eterna para os que O acatam. Mudança de vida à luz do verdadeiro significado natalino que, comemorado cada ano, deve produzir novos frutos de salvação. É o que São João Batista está a proclamar: “Fazei, pois, frutos convenientes ao arrependimento”. Eis porque São Mateus não julgou ser inútil descrever a vestimenta e o rigor a que o Precursor se submetia: “João tazia uma veste de peles de camelo e um cinto de couro à volta dos rins, e o seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre”. Não basta, contudo, admirar como João Batista podia suportar uma vida tão dura. Durante o Advento é necessário o espírito de penitência que leve a abolir comodidades inúteis visando a purificação interior. O Salvador cujo nascimento se comemorará nós o veremos não num palácio suntuoso cercado de luxo, mas no frio de um estábulo, na mais rigorosa pobreza. Na preparação para o Natal, João Batista e o Menino de Belém estão a condenar toda espécie de ostentação, de gastos desordenados, de excessos no comer e no beber, enfim abstenção de tudo aquilo que uma sociedade de consumo prega e que tanto mal faz à saúde do corpo e da alma. Abusos que não condizem com um cristão precisam ser cortados corajosamente. O seguidor de Crsito recebeu não o Batismo de água, mas o Batismo “com o Espírito Santo e com fogo” instituído por Cristo. Este tempo do Advento é assim ocasião oportuna para que o cristão reveja como tem empregado os dons celestes de seu Batismo o qual o purificou de toda a a imundície. Cumpre, então, retirar todas as vestimentas da vaidade e do orgulho e mostrar ao mundo austeridade que é uma reprimenda aos que se deixam levar pelas paixões terrenas. O convite de São João Batista é a renúncia a tudo que contradiz a existência de quem se prepara para o Natal. Clamor por uma vida sóbria, moderada e equilibrada. Deste modo, se estará cada um se dispondo a fazer uma fervorosa Comunhão dia 25 de dezembro, participando com uma consciência pura dos mistérios sagrados da vinda do Filho de Deus a esta terra. Instrução e exemplo nos legou São João Batista e para bem acolher suas mensagens é de bom alvitre o lembrete de São Paulo: “Aquele que deve vir, virá e não tardará” (Hb 10,37). A penitência pregada por São João Batista, porém, não deve consistir somente em se abster do mal, mas ainda em multiplicar as boas obras. Pensar em proporcionar ajuda aos mais carentes, em perdoar todas as ofensas, mais paciência com todas as pessoas, irradiar imperturbabilidade por toda parte. Ruptura corajosa com tudo que macula o coração e a alma que vai se aproximar do Presépio. Escutemos, então, o apelo do Percursor de Jesus: “Convertei-vos que já está próximo o reino dos céus”.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.