O monsenhor Geovane Luís da Silva, nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, concedeu uma entrevista ao Departamento Arquidiocesano de Comunicação (DACOM), onde ele conta de que forma recebeu a nomeação para bispo auxiliar e quais são suas expectativas para colaborar no pastoreio da Igreja.
Presbítero da Arquidiocese de Mariana, monsenhor Geovane é pároco da paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena (MG), além de professor no Seminário São José, em Mariana (MG), membro do Colégio dos Consultores e promotor de justiça no processo de beatificação do Servo de Deus Dom Luciano. Sua ordenação episcopal será no dia 25 de março de 2017, na basílica São José, em Barbacena.
Leia a entrevista na íntegra.
DACOM: Como o senhor recebeu a nomeação para ser bispo?
Monsenhor Geovane: A convocação para este serviço se deu no tempo do advento-natal, ciclo litúrgico que marca profundamente o ritmo da minha vida de fé, renovando-me espiritualmente. Respondi “sim” à missão que me foi confiada, estou consciente do desafio, mas ao mesmo tempo, sereno, feliz e confiante na graça de Deus. Confesso que fiquei surpreso e não esperava este chamado da Igreja para ser membro do Colégio Episcopal. Para mim, estava tudo muito claro e definido: concluiria minha vida ministerial nas comunidades de nossa arquidiocese – onde fosse preciso – e continuaria atendendo às solicitações de nossa Igreja Particular. Recebi a nomeação confiando na misericórdia de Deus que sabe trabalhar com instrumentos “insuficientes e frágeis” (1 Cor 1, 26 -26). Estou fazendo minha experiência de liberdade e desapego. O povo tem me ajudado a compreender que é necessário partir para a missão, ir aonde Deus precisa da gente. Ele nos ama, chama e envia.
DACOM: O senhor escolheu como lema para o seu episcopado “Sit amoris officium” (Seja serviço de amor). Qual o significado deste lema?
Monsenhor Geovane: O meu lema nasce do comentário ao Evangelho de João feito por Agostinho, no seu Discurso CXXIII.5, onde ele faz uma reflexão sobre “O colóquio emblemático de Cristo com Pedro”. Comentando o capítulo 21 do evangelho, e mais precisamente, os versículos 12-19, assim se expressou o Doutor da Igreja: “Seja serviço de amor, apascentar o rebanho do Senhor, se foi sinal de temor renegar o pastor”. Eu ouvi esta frase, pela primeira vez, no meu tempo de seminário, graças ao nosso querido Mons. Celso, então reitor. Ele o fez citando o artigo 24 da Exortação Apostólica Sobre a formação dos Sacerdotes nas circunstâncias atuais. Desde então, este pensamento ajudou-me a entender a vocação como uma resposta de amor ao ‘amor’ primeiro de Deus por nós. Esta palavra de Santo Agostinho ressoou forte para mim e ficou impressa não só na lembrança (santinho) de minha ordenação presbiteral, mas também no meu coração. Entendo que todo ministério eclesial, e mais ainda o episcopado, “é um serviço e não uma honra; o Bispo deve distinguir-se mais pelo serviço prestado que pelas honrarias recebidas. Conforme o preceito do Senhor, aquele que é maior seja como o menor, e aquele que preside, como o que serve”. Seja serviço de amor – Sit amoris officium: o amor atinge a sua beleza e maturidade no serviço, e este por sua vez não será fecundo se não houver aquele amor que nos leva ao sacrifício de si mesmo pelo outro. O amor sem serviço é alienação, mas o serviço sem amor é escravidão. Desejo ser livre no amor para anunciar o Evangelho e tornar-me abrigo e acolhida para todos.
DACOM: Ser bispo é aumentar o peso da cruz ou suavizar o peso do povo?
Monsenhor Geovane: No dia 21 de dezembro, após a missa na qual foi feito o anúncio oficial da minha nomeação, enquanto nos confraternizávamos na casa paroquial, recebi a cruz peitoral das mãos de Dom Geraldo. Naquela hora ele me disse: “esta cruz que carregamos é leve, mas pesada é a outra que nós carregamos ao longo da vida, ou seja, a missão. O ministério episcopal é uma grande responsabilidade, ou seja, é cruz, mas vivido na comunhão com Cristo torna-se uma cruz redentora. Peça sempre a Nosso Senhor que o ajude a carregar a sua cruz”. Por um lado, a missão aumenta a nossa responsabilidade, mas vivida no amor renovado, na alegria de servir, na esperança da profecia, ela se transforma num peso suave que traz alento, consolo e repouso para o povo de Deus.
DACOM: Uma pesquisa feita pelo Datafolha com brasileiros maiores de 16 anos (amostra representativa da população brasileira dessa faixa, em termos de gênero, idade, faixa de renda, escolaridade, região geográfica e tamanho de cidade) mostrou uma forte queda na porcentagem dos que se dizem católicos. Nos mesmos dois anos, a porcentagem de evangélicos se manteve constante (22% de pentecostais, 7% de não pentecostais), mas a dos que se declaram sem religião subiu de 6% para 14%. Na avaliação do senhor, como lidar com essa realidade? Quais os desafios a Igreja precisa vencer?
Monsenhor Geovane: A realidade do êxodo dos cristãos católicos para outras Igrejas ou Denominações Religiosas é algo que merece toda a atenção na ação pastoral e evangelizadora nos dias atuais. Nossa missão se insere num amplo horizonte do diálogo e da acolhida: por um lado somos chamados a alimentar a fé daqueles que ‘ainda’ frequentam a vida eclesial, e, por outro, não podemos perder de vista os irmãos (ãs) que se afastaram ou nunca partilharam da mesma fé em Cristo. Não se trata de proselitismo, mas devemos ir ao encontro destes irmãos e demonstrar-lhes um zelo incansável. Para aqueles que frequentam a vida eclesial temos que investir na vivência da fé em comunidade e promover a piedade popular enquanto instrumento de evangelização e lugar de encontro com Cristo. Diante da realidade dos fiéis afastados, creio que é preciso adotar uma atitude missionária. Precisamos ser uma “Igreja em saída”, lançarmo-nos na missão, testemunhando com alegria a Boa Nova de Jesus. Na atual conjuntura é necessário renovar a fé na “força vital do Evangelho” e vencermos a tentação de assumir uma postura cômoda diante da vida social e eclesial.
Com relação àqueles que se dizem sem religião creio que também é possível estabelecer o diálogo e parcerias a favor da vida e dignidade do ser humano. É bom lembrar que, para aqueles que vivem a fé cristã e frequentam nossas comunidades, Cristo deixou os sacramentos como sinal de sua presença, mas para aqueles que não o conhecem ou até mesmo o rejeitam, Ele deixou o sacramento do amor e da solidariedade. Este horizonte do amor, do cuidado com a vida e da solidariedade é um caminho de aproximação e trabalho até mesmo junto a estes irmãos (ãs) que se declaram sem religião.
DACOM: Quais as expectativas para essa nova missão na Arquidiocese de Belo Horizonte?
Monsenhor Geovane: Espero fazer o aprendizado do pastoreio junto com meus irmãos, numa Igreja Particular rica em sua caminhada pastoral, social, religiosa e cultural. Desejo exercer o ministério num cenário urbano em comunhão com os meus irmãos – leigos, religiosos (as), diáconos, presbíteros e bispos - que já atuam naquela arquidiocese. Quero ser presença de pastor na vida do povo e amar com amor de pai e de irmão todos aqueles que me forem confiados, especialmente os Presbíteros, Diáconos e também os jovens, os pobres e os enfermos.
Foto: José Celso