Pe. Geraldo Martins
As cortinas do novo ano se abriram. Houve festa, comemoração e muita alegria. Por um instante, deu-se trégua a temas amargos e indigestos oriundos do cenário político-econômico do país. Nada, porém, que signifique alienação em relação à conjuntura que nos desafia ou abandono das lutas em favor de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Move-nos a esperança de que, com a participação e o comprometimento de todos é possível reverter qualquer situação adversa.
Não nos é permitido iniciar o ano com cara de derrotados, embora esta seja uma tentação frequente diante do jogo político que domina o Brasil. O papa Francisco lembra que “uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre. Ninguém pode empreender uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo” (EG 84). Somos convidados a encarar 2017 com otimismo, ainda que as perspectivas sejam pouco ou nada favoráveis.
São preocupantes, por exemplo, as propostas do governo atual para a contenção de gastos e para as reformas trabalhista, previdenciária e do ensino médio. Mais preocupante ainda é o Congresso Nacional apoiar e aprovar, de forma afoita e quase irrefletida, essas reformas, sem aprofundado debate com a sociedade. A serviço de quem, afinal, estão o governo e o Congresso Nacional?
A corrupção mostra, dia após dia, o tamanho e a profundidade de suas raízes. Perto de completar três anos, a operação Lava Jato, descontados alguns exageros e algumas práticas questionáveis, continua desvendando os segredos de quem sempre nadou no mar dos privilégios. Parece ter lugar aqui a palavra de Jesus: “Nada há de encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado” (Mt 10,26). Por que isso não acontece também em outras áreas e lugares? Aí, sim, o país seria passado verdadeiramente a limpo.
O judiciário aparece, cada vez mais, como protagonista de uma realidade que mostra a fragilidade de nossas estruturas políticas. Porém, nem mesmo a Suprema Corte está imune às vaidades e às contradições próprias do ser humano. Os embates públicos entre alguns ministros só dão razão aos que, atônitos, se perguntam: em quem confiar?
Qual o papel da Igreja nesse contexto? Em primeiro lugar, mostrar a força da esperança cristã que nasce da cruz de Cristo. A esperança não nos deixa abater por mais difícil que seja o momento. Em segundo lugar, exercer a profecia denunciando tudo o que se contrapõe à vida e à dignidade humana, especialmente em relação aos pobres e excluídos. Além disso, cabe à Igreja também oferecer-se, sempre que possível e necessário, para mediar os conflitos e possibilitar o diálogo a fim de que não se perca o horizonte da sociedade nova, justa e fraterna, com a qual sonhamos.