Perfeito como o Pai Celeste

14/02/2017 às 08h44

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus fecha o Sermão da Montanha com esta recomendação: “Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” (5,48). Esta ordem de Cristo nos reporta ao que está no Livro dos Levitas: “Sede santos como eu o Senhor vosso Deus sou santo” (Lv 19,2). No Levítico há uma série de preceitos morais, o que se acha também no discurso do Redentor que mostra aos seus seguidores uma maneira cristã de se comportar. Para o cristão procurar a perfeição é realizar o desejo de Cristo numa busca ininterrupta de santidade, porque Deus é infinitamente perfeito. Todos os batizados são chamados a esta perfeição e o amor que se tem para com Deus e para com o próximo é o caminho. O apelo à santidade é universal para todos os seguidores de Cristo, como bem acentuou o Concílio Vaticano II. As normas de comportamento decorrem de uma relação com Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Já antes de Cristo, porque o povo de Deus era o povo escolhido, Deus estabeleceu uma relação especial com Israel e lhe deu uma moral, uma maneira de viver e de se comportar. Porque Jesus nos convida a sermoa filhos bem-amados do Pai, Ele também nos oferece uma maneira de existir cristã. A síntese de tudo é o amor ao semelhante sem nenhuma exceção e o amor ao Pai celeste. Jesus explicou: “Para serdes verdadeiramente os filhos do vosso Pai que está nos céus (Mt 5,45). Cumpre, portanto, em primeiro lugar, que cada um reconheça sua verdadeira identidade que é ser filho ou filha do Senhor Onipotente. Eis aí a incrível distinção que é recebida no dia do Batismo. Eis o clamor de São Leão Magno: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não “te esqueças de que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus». É preciso então que o cristão cresça sempre na prática de todas as virtudes, amparados pelos Sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vivendo numa total união com Deus. São Paulo atingiu o grande ideal e pôde dizer aos Gálatas: “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). Esta experiência espiritual não é reservada a alguns, mas a todos os batizados. Estes devem deixar a vida divina se expandir completamente na sua existência numa luta contínua contra o pecado e na fuga de todas as ocasiões que levam ao mesmo. Para isto é amar segundo o coração de Deus. Amor que não exclui ninguém, amor oblativo que é o dom de si mesmo e que conduz à perfeição divina. Desde toda a eternidade o Pai se dá ao Filho e o Espírito Santo é a circulação do amor entre o Pai e o Filho. Deste amor resultou a criação de tudo que existe, pois como ensinou Santo Tomás de Aquino, “o Bem é de si difusivo”. Este Deus “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e chover sobre justos e injustos”, mostrando que o amor que se deve ao próximo não pode ter limites. Deus propõe a cada um entrar plenamente no seu projeto de amor, sendo verdadeiramente seus filhos e filhas. O amor de Deus, segundo São Paulo, “se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Na Carta aos Coríntios este Apóstolo nos lembra que somos “o Templo do Espírito Santo e que o Espírito de Deus habita em nós” (1 Cor 3,26). Compreende-se então por que devemos nos amar mutuamente, como ensinou Jesus para que se possa procurar ser perfeito como o Pai celeste é perfeito.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


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