Uma característica deste importante documento – a Ratio Sacerdotalis – é a acentuação da vocação ao ministério presbiteral como um precioso dom de Deus, que é entregue à solicitude da Igreja para um necessário, cuidadoso e prolongado processo formativo. Segundo o documento, o “chamado divino interpela e envolve o ser humano concreto” (n. 93), que será inevitavelmente marcado por qualidades e imperfeições. À Igreja compete favorecer o processo formativo, disponibilizando os meios adequados para o amadurecimento global do candidato ao sacerdócio ministerial. Ressalte-se o fato de que o primeiro e insubstituível agente da formação será sempre o próprio seminarista, ao qual compete empenhar-se durante todo o iter formativo, e abrir-se à ação da graça.
À Igreja compete cuidar não somente do acompanhamento e discernimento das vocações, mas também do seu nascimento. Para isto, é indispensável orar incessantemente, prevendo momentos do ano litúrgico para este objetivo. Recomenda-se a criação de “centros para as vocações Sacerdotais” em cada diocese, que terão por responsabilidade orientar a pastoral vocacional, suscitando vocações não somente para a própria diocese. Como a ação de Deus não faz acepção de idades, havendo pessoas chamadas em diferentes etapas da vida, a Igreja deverá se preparar convenientemente para cuidar de vocações de pessoas na etapa da adolescência, bem como das vocações adultas, cujo número vem aumentando nos últimos anos. O documento faz referência ainda à especial atenção que se deve ter para com as vocações indígenas, de migrantes, e para com aqueles que se preparam para o sacerdócio fora do próprio país.
Outra contribuição do documento está em explicitar os fundamentos da formação. O sujeito da formação – o vocacionado – é um mistério a si mesmo, sendo por isto chamado à integração dos dons e riquezas, limites e fragilidades, empenhando-se em colaborar com o Espírito Santo, cuja ação é imprescindível para realizar a síntese interior. A base e o objetivo da formação é a identidade presbiteral. Tendo a Cristo como modelo, o presbítero deverá ser um mestre da Palavra, ministro dos sacramentos e exercer uma fecunda paternidade espiritual, como guia do povo de Deus. O Caminho ou iter formativo deverá ser a configuração a Cristo, cabeça, pastor, servo e esposo. O sacerdócio ministerial participa do sacerdócio de Cristo, de sua missão, sendo os presbíteros colaboradores dos bispos. É assinalada ainda a necessidade de uma sólida formação interior para a missão. Para isto, deve-se cuidar do desenvolvimento da capacidade de relacionar-se com o próximo, à luz do cuidado com a vida espiritual.
Os meios para a formação são o acompanhamento pessoal (n. 44-49) e o acompanhamento comunitário (50-52), articulados num processo formativo unitário e integral, que deverá continuar na vida sacerdotal. Assim, o documento acentua que é imprescindível o conhecimento de cada formando, sendo necessário oferecer a ele uma atenção e cuidados personalizados. Fomos criado e somos únicos, e, portanto, não haverá formação sacerdotal sem que haja um satisfatório acompanhamento pessoal. Esta formação deverá acontecer em uma comunidade formativa, o seminário, pelo fato de esta ser a essência do cristianismo e do ministério presbiteral. O seminário é, então, chamado a ser uma comunidade formativa, constituída de formadores e formandos, sob a responsabilidade do bispo. Deverá ser uma comunidade aberta às famílias, às pessoas consagradas, aos jovens, estudantes e aos mais pobres (n. 52).
No capítulo IV o documento apresenta a formação como compreendida por um processo integrado, articulado e ininterrupto, dividida em dois grandes momentos. A formação inicial se inicia com o ingresso no propedêutico, que é parte integrante da mesma (n. 55), e se prolonga até a ordenação presbiteral, quando terá início a formação permanente. O documento detalha as etapas da formação, bem como suas dimensões, que deverão ser adaptadas às específicas características socioculturais das diferentes conferências episcopais e igrejas particulares. Em todas as etapas, a formação “exige um paciente e rigoroso trabalho sobre a pessoa, aberta à ação do Espírito Santo; a sua finalidade é a formação de um coração sacerdotal” (n. 55).