Pe. Geraldo Martins
Os massacres ocorridos, no mês de janeiro, nos presídios de Manaus, Roraima e Rio Grande do Norte, matando de forma bárbara mais de uma centena de encarcerados, alimentaram motins em vários outros presídios do país. A insegurança e o medo espalharam-se pelo Brasil e as autoridades se mobilizaram para buscar soluções para um problema crônico cujas raízes vêm de longa data: o sistema carcerário falido.
Manifestando-se sobre os massacres, a Pastoral Carcerária Nacional alertou: “O que se deduz da atual conjuntura é que a morte de centenas e a redução de centenas de milhares à mais abjeta degradação humana parece não ser digna de incômodo ou atenção quando executadas metodicamente e aos poucos, sob o verniz aparentemente racional das explicações de caráter gerencial, e sem que corpos mutilados sejam expostos ao olhar da mídia”. Não podemos ficar indiferentes diante disso.
A política de encarceramento em massa em vigor no país eleva a população carcerária do Brasil a mais de 600 mil detentos e esse número ultrapassa um milhão se somarmos os presos domiciliares e em medida de segurança. Há, infelizmente, muita desinformação quanto a essa realidade e, para a maioria da população, o único jeito de fazer justiça é colocando na cadeia. Desconhecem a possibilidade de penas alternativas e de outras ações mais eficazes para a recuperação e ressocialização dos condenados, dependendo do crime que cometeram.
Por isso, conforme lembra a Pastoral Carcerária, “não podemos cair na falácia das análises simplistas e das medidas que pretendem apenas aplainar o terreno até o próximo ciclo de massacres, nem titubear no enfrentamento aos pilares desse sistema, como a atual política de guerra às drogas, a militarização das polícias, o aprisionamento provisório, a privatização do sistema prisional, e a política de expansão do aparato carcerário”. Este é o alerta que vem dos presídios.
Para nós cristãos, é importante marcar uma posição que se inspire no Evangelho que nos ensina a condenar o pecado e nunca o pecador. Ilustra bem isso um fato narrado por dom Luciano, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, em 22.02.1997: “Padre Luiz Roberto di Lascio encontrava-se no 9º pavilhão da Casa de Detenção do Carandiru (SP), para visitar e confortar um dos presos. Ali entrou, também, uma senhora de idade, simples, encurvada, levando uma sacola. Foi ao encontro de um jovem que a aguardava, sentado no banco. Ele a acolheu com carinho, e ela, com gestos de amor materno, demonstrou, durante todo o tempo, acolhimento e ternura. Despediram-se com um abraço afetuoso. O preso, a quem o padre visitava, disse: "Sabe, padre Luís, aquela senhora não é a mãe dele, mas a mãe do rapaz que ele matou. No dia do enterro, ela prometeu que o perdoava. Como sinal de perdão, ela o acompanharia, com muito amor e assistência, enquanto ele estivesse na prisão".