Domingo de Ramos e da Paixão de Jesus

03/04/2017 às 14h22

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Desde a entrada festiva de Jesus em Jerusalém até sua morte no Calvário a Semana Santa leva os fiéis a seguir as diferentes etapas do mistério de Cristo, culminando no Domingo de Páscoa, o maior dia do ano, data da gloriosa Ressurreição do Redentor. Jesus foi aclamado como Rei, mas o trono deste soberano era a Cruz, pela qual Ele é o Messias salvador. Um soldado romano, um estrangeiro, proclamaria lá no Gólgota: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus”. Cumpre retirar todo proveito espiritual destes dias abençoados que devem suscitar especial piedade, todos unidos em comunhão com os cristãos do mundo inteiro. Renovação de uma fidelidade total a Cristo que se sacrificou pela humanidade, derramando seu sangue precioso pela salvação de todos. É necessária a correspondência a tanto amor. Nem se pode esquecer que o contexto histórico atual onde falta tantas vezes a comiseração exige uma profusão de dileção universal. Quem vai passar ao longo desta Semana Santa é Cristo que descerá no fundo das desesperanças humanas para aí depositar seu imenso amor. Ele quer abrir um caminho que permite a todos entrar um dia na glória do Pai. Cumpre, pois, força e coragem para segui-lo ao longo desta Semana, pois se nós morrermos com Ele com Ele viveremos eternamente. Se com Ele sofrermos, com Ele reinaremos no seu reino de glória. Além da visão do Calvário serão contempladas as luminosidades de sua vitória sobre a morte, numa ressurreição que é penhor da nossa própria ressurreição. Como bem advertiu São João Crisóstomo estes são dias nos quais é preciso subjugar definitivamente a tirania do demônio, vencido pela Cruz. Horas sagradas nas quais, unidos aos anjos, a paz reinará em cada coração arrependido. A participação nas procissões destes dias, a comemoração da instituição da Eucaristia, a austeridade do jejum da sexta-feira santa, seguida da solene vigília pascal oferecem oportunidade ímpar para um crescimento espiritual incomparável. Oportunos conselhos levarão a muitos a procurem o Sacramento da Penitência e a multiplicarem as boas obras numa piedade a atestar a grandeza dos dons divinos numa semana tão privilegiada. São oito dias para passar com Cristo da morte à vida. Passo a passo seguindo Jesus que toma sobre si as fragilidades humanas. A vulnerabilidade de Cristo deve tocar os corações porque ela flui de um grande amor. Graças à sua cruz ninguém pode se sentir abandonado e sujeito a um destino inexorável, submisso à morte. A cruz de Jesus é a vitória sobre o mal e o pecado. A alegria pascal do próximo domingo nasce aos pés da cruz sublimando todo sofrimento dos homens. Tomando sobre si nossas fraquezas, Cristo nos revela o quanto o nosso Deus nos ama. Os acontecimentos da Semana Santa não são uma mera recordação de fatos longínquos, mas através da Liturgia o cristão revive o mistério de sua redenção. Não se torna um mero espectador, mas entra no mistério de um sacrifício divino que abre as portas de uma eternidade feliz. A Liturgia não é uma sucessão de ritos. Ela introduz o seguidor de Jesus no coração mesmo de seus gestos salvíficos, levando cada um à participação dos sentimentos mesmos do divino Salvador. Levemos, portanto, parentes e amigos a estarem presentes nas solenes celebrações destes dias repletos de tantas graças. Trata-se de uma união profunda com Cristo, afastada toda indolência e indiferença. Cumpre que nos encorajemos uns aos outros numa fé profunda, para sermos no coração do mundo um povo que vive em função da misericórdia do Senhor. Este é um tempo favorável a uma renovação de vida num afervoramento interior que signifique uma completa valorização das dores do Redentor da humanidade. Esta não pode ser uma semana como as outras, embora todas as semanas devam ser santas. Passar, porém, estes dias de uma maneira ainda mais fervorosa é preparar um encontro especial com Jesus Ressuscitado no dia festivo da Páscoa.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 


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