A porta das ovelhas

02/05/2017 às 09h15

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus manifesta-se como o Bom Pastor e, na verdade, sendo Ele mesmo a porta das ovelhas (Jo 10,1-10). Nos campos da Palestina, os pastores faziam parte da paisagem cotidiana. À tarde eles reuniam seus rebanhos para colocá-los ao abrigo dos vários perigos noturnos. Pela manhã eles os conduziam para a pastagem. No salmo 22 já apareciam estas imagens: “O Senhor é meu pastor sobre prados de erva fresca ele me faz repousar, ele me conduz para as águas tranquilas e me faz reviver”. É que Deus conduz o seu povo e dele cuida. Jesus, autêntico Bom Pastor, acrescentou que Ele era a porta do redil, ou seja, Ele é o único medianeiro entre Deus e os homens e apenas por meio dele se pode entrar no verdadeiro aprisco e ir até o Pai. Tão somente por Ele chega toda proteção. Podia, portanto, atestar qual era sua missão neste mundo: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância”. Note-se, contudo, que a expressão bíblica “rebanho” não significa um coletivo anônimo. Isto porque para Deus as ovelhas representam um povo e Ele conhece a todos pelo seu nome. .Cada uma de suas ovelhas tem um lugar dentro de seu coração de Pai. Ele ama individualmente porque cada ser humano é seu filho dileto. Quando Jesus diz que Ele é a porta, combatia deste modo a maneira de pensar dos fariseus para quem Deus era um Ser longínquo, inacessível. Jesus, contudo, era a porta que permitia ir até o Ser Supremo e quem entrar por esta porta está salvo, “entrará e sairá e encontrará pastagem”, diz Ele textualmente. É que não se trata de uma porta que se fecha brutalmente e aprisiona. Trata-se de uma porta aberta a toda a humanidade, inclusive para as ovelhas desgarradas que desejassem a plenitude da salvação, podendo então encontrar um sentido para sua vida. Era a porta da misericórdia, da bondade divina, para quem cada criatura é um bem precioso.

A realidade da imagem da porta usada por Jesus encontra sua realização através dos sacramentos do Batismo, da Eucaristia, da Crisma pelos quais o cristão se incorpora nele e por Ele tem acesso ao Pai. Ofertas magníficas da obra da redenção que Jesus veio operacionalizar nesta terra num convite a viver uma existência serena, tranquila junto dele. Para isto é preciso entrar no dinamismo profundo da vida cristã que é o amor ao Pastor e aos irmãos ovelhas e filhos seus queridos. Eis porque sua verdadeira ovelha, ou seja, seu autêntico discípulo tem uma grande missão que é conduzir os que estão foram do redil deste Pastor para que entrem por esta porta salvífica, A tarefa do cristão é proporcionar a todos passar por esta porta. Muitos infelizmente trilhando os caminhos da perdição vão para longe deste Pastor divino e não encontram a porta do único redil que oferece a salvação. Nos meios de comunicação social todos os dias aparecem atos de violência, manifestações racistas, guerras fratricidas, enfim, os crimes mais bárbaros. Pessoas perdidas na droga e nos vícios mais detestáveis. Diante disto aparece clara a vocação do seguidor de Cristo, qual seja lá onde a Providência o colocou trabalhar por um mundo melhor. Todos dentro do projeto de amor que o Bom Pastor veio anunciar. Jesus quer ser a porta pela qual se passe da tristeza para a alegria, da dúvida para a confiança, do pecado para a virtude. É preciso que o cristão seja, de fato, a voz do Bom Pastor pela palavra e através da vivência plena do Evangelho. Então muitos compreenderão que Jesus é porta para um futuro novo almejado por Deus. Um mundo de felicidade e de amor do qual Cristo é já a realidade visível. Ninguém deve se acomodar no seu conforto espiritual, mas cumpre partilhá-lo e proclamá-lo por toda parte. Este é o desafio dos cristãos que devem ser os arautos da esperança, oferendo às gerações futuras a possibilidade de entrar no redil de Deus pela porta que é Cristo.

A missão Essencial da Igreja é estender o reino de Cristo, a porta que leva até o Pai. Esta é a vocação do batizado, um apostolado esclarecido e atuante no mundo nos mais diversos afazeres cotidianos, cooperando com o Bom Pastar. A fecundidade deste apostolado depende da união vital com Cristo, o enviado do Pai, a porta pela qual se entra no aprisco eterno dos eleitos. Esta união com Jesus se dá na Igreja e é alimentada pelos nutrimentos espirituais, sobretudo pela Eucaristia. No atual contexto histórico no qual campeiam os mais graves erros que tendem a arruinar radicalmente a religião e toda a ordem ética, é preciso mais do que nunca aprofundar e defender os princípios cristãos e sua aplicação aos problemas atuais. Cabe às ovelhas que entram no redil do Bom Pastor fazer com que outras ovelhas deste Pastor se tornem capazes de construir a ordem temporal e espiritual, orientando a muitos para o reino do céu. Nada mais eficiente do que participar das obras de caridade, pois deste modo se manifesta a prática da Lei do Amor que deve unir todo o rebanho de Jesus. A misericórdia para com os pobres, os fracos, o socorro mútuo são, de fato, a marca das ovelhas do Bom Pastor.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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