Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus deveria retornar ao Pai após cumprir sua missão salvadora e Ele prepara os apóstolos para este acontecimento com palavras consoladoras (Jo 14, 1-12). Num verdadeiro discurso de despedida ministra preciosos ensinamentos a seus seguidores em torno do tema de sua volta, enquanto homem, para junto do Pai. Ele iria inclusive preparar para seus seguidores um lugar, mas retornaria solenemente um dia para levá-los consigo. Daí seu autorretrato meditado profundamente através do tempo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Ele é o Mediador, o Mestre, a fonte da Vida Eterna. Ele é o GPS espiritual de uma multidão que O seguiria através da História, instruídos com uma doutrina jamais superada e infundindo a todos os seus discípulos a plenitude do vigor e da mais profunda alegria. Eis porque ao anunciar sua ida para junto do Pai Ele pôde dizer aos Apóstolos: “Não se perturbe o vosso coração; crede em Deus e crede também em mim”. Crer na linguagem semítica significa ter confiança absoluta em alguém, se engajar na sua palavra. Ora, Jesus é a Palavra de Deus, o Verbo Eterno que se encarnou para vir exatamente ensinar e oferecer uma existência perene no Reino do Pai. Por tudo isto Ele liberta das trevas e se tornou o único guia seguro para levar lá onde todas as aspirações humanas serão totalmente satisfeitas. É preciso então acolhê-lo sem reserva, pois Ele oferece uma estrada luminosa até os páramos perenes na imortalidade venturosa do paraíso. É que Ele liberta da morte e do pecado. Portanto, os Apóstolos deveriam já conhecer o caminho. Daí ser estranha a alegação de Tomé dizendo que não conheciam este caminho. Esta assertiva ofereceu oportunidade a Jesus para firmar numa sentença fulgurante que ser fiel a Ele é ter a certeza de ir para junto do Pai, porque, sendo Ele Filho de Deus, Ele é a totalidade da Revelação que faz participar da existência filial que O une ao Pai, na vida de comunhão da Trindade Santa. Tudo isto é a garantia daquilo que Ele pregou por onde passou, penhor da salvação perene. A seus seguidores Jesus está, portanto, cobrando um ato de fé profunda que os leve a superar os períodos de dúvidas e de incertezas neste caminhar terreno. A seu exemplo, porém, será sempre preciso passar pela Cruz para se obter um dia a ressurreição gloriosa do corpo e da alma. Nossa confiança nele, contudo, não pode se cifrar em palavras, mas deve resplandecer em todas as ações, Trata-se de uma transformação cotidiana, confirmando por toda parte que longe do divino Redentor não há salvação possível. Nada, assim, de perturbação do coração, da inteligência e da afetividade, dado que na Jerusalém celeste Jesus já reservou um lugar para cada um de nós. É certo que há um mundo hostil a ser enfrentado até lá, mas com Cristo seu discípulo será sempre um vencedor de todos os obstáculos. Na Casa do Pai há, pois, uma habitação perpétua, sendo o cristão, neste mundo, a casa de Deus, segundo as palavras de Cristo: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada”. O batizado já tem em si o céu, pois, incorporado a Jesus, anda por um caminho seguro, à luz fulgente do Evangelho, já gozando no tempo a vida inefável de Deus. Deste modo, contemplará um dia na luz divina o abismo das grandezas deste Deus, três vezes santo. Uma união profunda com Jesus é a vereda segura para usufruir a ventura de tudo isto. A verdade que Ele oferece é sólida como uma rocha e nada a pode abalar. Com a verdade de Jesus se tem a resposta a todas as questões, longe de qualquer relativismo. Nela se pode apoiar em todas as circunstâncias. Deste modo o segredo da vida do cristão é estar inteiramente imerso no Filho de Deus, que é pão eucarístico, fonte da água viva, guia seguro, modelo e conforto. Ele é a explicação misteriosa e última da história humana e do destino de cada um de nós. Eis porque Ele quer que seus discípulos tenham um coração isento das misérias das paixões insufladas pelos meios de comunicação social. Desta maneira, o mundo compreenderá melhor que para o verdadeiro seguidor de Jesus Ele é o centro de sua alma, sua verdade, sua única alegria, sua vontade, sua felicidade. O amor de Cristo é o inspirador, o grande motor, a forma que leva à virtude e ao bem. Ele é, realmente, o Caminho, a Verdade e a Vida!
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.