O paráclito e os discípulos de Jesus

15/05/2017 às 10h13

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Para aqueles que verdadeiramente O amam, guardando os seus mandamentos, Jesus fala da vinda do Paráclito, o Confortador, que vem para assisti-los, explicando-lhes, como Espírito da verdade, tudo que Ele ensinou (Jo 14,15-21). É necessário então acolher este Paráclito como hóspede interior, como defensor, reconhecendo nele um Mestre interior. Cabe ao cristão contemplar nele o ator central de sua vida espiritual, protetor de uma fé sólida e esclarecida. Disto resulta a necessidade de escutá-lo, criando espaço que O permita agir em todas as ações cotidianas. Por esta obra do Espírito Santo a vida e a doutrina de Jesus se tornam atuais na existência de cada um. Sem o Paráclito a vida religiosa e espiritual do batizado seria uma mera comemoração de um passado longínquo. Com Ele, porém, tudo se torna atual e novo, realizando-se as promessas das quais é garantia a ressurreição de Cristo. Deste modo, fulge para o seguidor de Jesus a realidade da vida divina. O cristão se torna vitorioso, enraizado no amor de Deus. O fiel percorre então os caminhos traçados por Cristo neles encontrando a paz do coração, apesar das lutas incessantes para a prática das virtudes. O cristão conhece em plenitude a verdadeira liberdade, vivendo com responsabilidade as obrigações resultantes do Batismo e todos os compromissos inerentes à consagração ao Deus Uno e Trino. O fiel sente-se então vivamente aberto para o Infinito e vê crescer dia a dia o desejo de estar sempre mais unido a seu Criador, apesar de seus limites e de suas fraquezas inerentes à contingência humana. Nunca se deixa prender pela desesperança e se firma em Deus no qual encontra força e iluminação. Tudo isto resultado da ação contínua do Espírito da Verdade que, segundo Jesus, o mundo não pode receber porque O desconhece. O verdadeiro cristão O conhece por conviver interiormente com Ele, sobretudo através da prece confiante a qual não o deixa iludir com as falsas promessas dos profetas do erro e dos degradantes vícios e paixões. São Paulo, explica que o cristão vive “não em termos que a sabedoria humana ensina, mas com os conceitos que o Espírito nos ensina [...] O homem carnal não está em condição de perceber o que vem do Espírito de Deus. Isto é loucura para ele. Disto ele não é capaz de compreender nada [...] O homem espiritual, ao contrário, julga tudo, embora ninguém o possa julgar” (1 Cor 2,13-15). É que o fiel dilata sempre o seu coração na dimensão do amor infinito de Deus e usufrui das consolações do Espírito Santo e de todas as dádivas divinas. Trata-se de viver não diante de Deus, mas de viver em Deus e por Deus. São Paulo lembra, porém, que o Espírito Santo vem aos fiéis “com gemidos inexprimíveis” (Rom 8,26), conclamando o seguidor de Jesus a viver em função desta realidade sublime que é o amor de Deus. Aí está o fundamento da esperança cristã na vida eterna. A alma do justo, no momento da morte, ingressa no céu, mas aquele que foi, no tempo, o templo de Deus há de ressuscitar, conforme lembra o mesmo Apóstolo: “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou dos mortos Cristo Jesus vivificará vossos corpos mortais pelo seu Espírito que habita em vós” (Rom 8,11). É o que se dará na Parusia, ou seja, na volta gloriosa de Jesus, no final dos tempos. A habitação do Espírito Santo na alma resume, deste modo, todos os frutos da Redenção. Trata-se do dom real do Senhor Jesus, o cúmulo de sua bondade, a marca suprema de seu amor. O divino Espírito Santo opera nos corações uma obra semelhante àquela que Ele realiza no conjunto da Igreja da qual é o sopro vivificador. Ele é a luz venturosa que penetra até o mais íntimo da alma, o Espírito da verdade que forma aí Cristo e revela todas as coisas, porque Ele penetra tudo, até às profundezas mesmas de Deus (1Cor 2,10). Ele faz um transplante admirável, pois troca o coração do cristão pelo coração mesmo de Jesus. Realiza-se a palavra da Escritura na qual Deus assim se expressa: “Colocarei dentro de vós o meu Espírito” (Ex 31,116). Por tudo isto, cumpre então permitir que o Espírito Santo faça esta obra prima de transformação espiritual!

*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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