Diante do atual quadro político do Brasil, a sensação que muitos experimentamos é a de que estamos sob o regime de uma ditadura; não mais de democracia. De fato, os nossos ‘representantes’, em todas as esferas e com raríssimas exceções, não nos representam. Não é o governo do povo, mas de uma pequena elite. Pequena, mas poderosa. O índice de aprovação do Governo Temer, de acordo com a pesquisa do IBOPE em março, era de 10%. A satisfação com o Congresso passa longe.
E, sem querer ser pessimista, não dá pra se ter muita perspectiva de futuro, a curto e médio prazo. Além de estarmos nas mãos de um grupo, essa elite tem ao seu serviço e contra o povo em geral muito dinheiro e poder, a força inquestionável da grande mídia, uma parte considerável do judiciário, e um Congresso que se vende sem um mínimo de vergonha.
Guilherme Boulos, na Carta Capital de 15 de maio último, faz um balanço do atual Governo. Em um ano, assistimos, impotentes e abismados, a uma série de medidas: desmonte de programas sociais; congelamento dos gastos por 20 anos, que irá afetar fortemente a saúde, a educação, moradia, além de deixar de pés e mãos atados os próximos governos; abertura do pré-sal aos estrangeiros; reforma do ensino médio sem qualquer diálogo com a sociedade; entrega de cargos-chave a pessoas do setor privado, ligados, por exemplo, ao banco Itaú, Shell, a Planos de saúde etc; a indicação de Alexandre de Moraes,“tucano de carteirinha”, para o STF; entreguismo na política externa, voltando a um triste passado, num servilismo vil às grandes potências e fechando as portas aos pequenos; caça desumana aos povos indígenas.
O programa que leva o nome irônico de “crescer”, levará ao fechamento de 402 agências do Banco do Brasil, com a demissão de 18 de mil funcionários, e de 120 agências da Caixa, com a demissão de 5 mil funcionários só este ano. A terceirização irrestrita do trabalho irá eliminar uma série de direitos garantidos, privando o trabalhador de qualquer segurança, sempre em benefício do empregador. Muito próximo ao trabalho escravo.
Os Projetos da reforma trabalhista e da previdência, se aprovados, trarão enormes prejuízos para a grande maioria da população. Tudo em nome de um possível equilíbrio das finanças. Mas a conta é muito alta, e quem pagará por ela são os mais vulneráveis.
Paradoxalmente, enquanto o Governo impõe à população, sobretudo aos mais pobres, cortes e sacrifícios desumanos, escancara as portas aos detentores do dinheiro. Cobra dos pequenos, mas perdoa dívidas milionárias de banqueiros e grandes empresários.
Descaradamente, sem o mínimo pudor, o Presidente tem oferecido milhões aos parlamentares favoráveis às suas emendas, e negado qualquer repasse aos que ele julga infiéis. Tem demitido, exonerado, pressionado... Faz jogadas e malabarismos de todo o tipo para abafar a pressão popular sobre os parlamentares.
Para minimizar as críticas da sociedade, faz negociações e concessões aos donos de TV e figuras carismáticas, como Sílvio Santos e Ratinho.
Nem a Igreja escapa. Vendo que a CNBB e alguns bispos em particular começaram a levantar a voz contra as pseudorreformas, Temer partiu para o contra-ataque. Chamou o Núncio Apostólico para conversar. Enviou carta a vários bispos. Designou mensageiros para conversar pessoalmente com alguns bispos de maior influência.
Como ficamos? Dos empresários e da grande mídia não precisamos esperar qualquer iniciativa favorável à população. Resta-nos confiar que nossos pastores, aqueles que foram escolhidos por Deus e ungidos para defender e dar a vida pelas ovelhas, sejam fiéis a Jesus Cristo, e não se dobrem às benesses do dinheiro e do poder. Que tenham a coragem de defender profeticamente a verdadeira democracia e o estado de direito. Que levantem a voz, inclusive na mídia, para que a Justiça prevaleça.
E resta a nós, povo de Deus e cidadãos conscientes, superar de vez a apatia, a indiferença, o medo, a covardia. A ordem é se mobilizar, se organizar, pressionar os parlamentares, ia às ruas, mostrar força, pois, se escolhemos alguém para nos representar, temos todo o direito de cobrar e até mesmo destituir os que nos traem. O preço da omissão poderá ser maior do que imaginamos.
Pe. José Antonio de Oliveira