Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Antes de sua Ascensão ao céu Jesus afirmou aos Apóstolos: “Eis que estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,16-20). É preciso então compreender o mistério da Ascensão tendo em vista duas realidade que poderiam parecer opostas. Indo para junto do Pai Ele deixou fisicamente aqueles pelos quais se sacrificara. Por outro lado, porém, como Ele mesmo asseverou, espiritualmente sua presença seria de muito maior eficácia. Sua partida não significava que sua missão estava terminada. Não só no Sacramento da Eucaristia Ele seria contemporâneo de todas as gerações cristãs, como também sua obra continuaria através dos tempos por meio dos apóstolos e de seus sucessores. Eis porque sintetizou abertamente a tarefa que a estes incumbia, ou seja, ensinar todas as gentes, batizando-as e ensinando-as a observar tudo que Ele havia determinado. Pelo mundo inteiro deveria ser proclamada a Boa Nova. Esta estava praticamente confinada em Jerusalém e na Galileia e vai agora se expandir primeiramente em todo o Império Romano. O livro Atos dos Apóstolos mostra o trabalho nas primeiras comunidades cristãs, manifestando como a Palavra de Deus ia sendo pregada por toda parte sem perder em nada sua eficácia. Inclusive, em nome de Jesus, milagres extraordinários eram realizados confirmando a missão divina de que estavam revestidos. Estando junto do Pai, Jesus prosseguia assim sua obra salvadora através de seus representantes, estando presente ativamente em sua Igreja, seu Corpo Místico. Ele enviaria o Espírito Santo e no dia de Pentecostes começaria a história desta Igreja, que receberia assim a força e o poder de seu Fundador. Tornar-se cristão seria crer que Jesus não está ausente em sua vida e que Ele realizaria em cada um as maravilhas que estão registradas nos Evangelhos e nos atos dos Apóstolos. Ele presente na existência de seus seguidores, dado que o cristão é outro Cristo. Esta realidade vivida intensamente faria a grandeza de sua Igreja em todas as regiões do mundo. Sua doutrina seria ininterruptamente a luz a iluminar todas as nações. A fé no divino Redentor daria sempre coragem aos fiéis por entre as vicissitudes dos contextos históricos. A certeza da veracidade de tudo que Cristo ensinara e prometera seria a rocha inabalável para firmar o cristianismo século após século. O cristão teria sempre uma abertura para o trabalho evangelizador, convicto de que na outra margem da vida Jesus Ressuscitado o está aguardando. Trata-se da esperança que alumia ontem, hoje, amanhã e sempre o seguidor do Mestre divino. Esta esperança suscitou numerosas expressões da fé, sobretudo nas esculturas de Cristo representado lá na sua glória e também nos magníficos mosaicos das Igrejas bizantinas e nas Catedrais ocidentais. Tudo isto manifestação da fé de um povo que crê que Jesus é quem oferece a verdadeira paz e a doutrina que pode mudar o mundo para melhor. Cristo ressuscitado, o qual no dia da Ascensão foi para junto do Pai, dissipa as dúvidas e leva milhares a um apostolado fecundo numa obra evangelizadora que irá até o fim dos tempos. Foi assim que de pagão o mundo se tornou cristão sob a influência do Evangelho. Notáveis missionários cristianizaram a Europa e depois muitos vieram para a América e também se embrenharam no vasto território africano e na Oceania. Uma obra maravilhosa que prossegue em pleno século XXI apesar da oposição das forças do mal que combatem os valores legados pelo Filho de Deus. A luta continua para tornar o mundo mais fraterno, afastando as abominações dos vícios para que este planeta se transforme num louvor único à glória de Deus. Se até hoje impera a desigualdade social e os crimes mais hediondos, em compensação há por toda parte, como aconteceu nos séculos passados, milhares de cristãos fervorosos que batalham para que os valores do Evangelho se difundam. Cristãos denodados que se sacrificam pelos irmãos, longe do pernicioso egoísmo. O empenho por uma sociedade vitalmente cristã sempre existiu e existirá, não obstante a atuação das forças do espírito do mal. A festa da Ascensão proporciona ocasião para que se tenha uma visão otimista da história, pois os cristãos continuarão sempre a desenvolver na vida social o senso de liberdade e de fraternidade. Todos conscientes de que é preciso cooperar com o bem comum, visando o aperfeiçoamento e o progresso material e espiritual da humanidade.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.