Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade de Pentecostes marca o início da difusão do Evangelho por toda a parte. Jesus havia dito aos Apóstolos: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,19-23). No quinquagésimo dia depois da Páscoa, como narra o livro dos Atos dos Apóstolos, “estando reunidos os discípulos no mesmo lugar, apareceram-lhes línguas divididas à maneira de fogo e pousou sobre cada um deles e ficaram todos cheios do Espírito Santo” (Atos 2,1-5). Os apóstolos antes temerosos vão agora levar o Evangelho por toda parte. São desde então impulsionados a proclamar ao mundo as maravilhas de Deus. Levados por um vento forte e iluminados por um fogo divino corajosamente anunciam publicamente que Jesus estava vivo, havia ressuscitado dos mortos. Não têm mais medo de testemunhar Aquele que perseguiram e crucificaram. Por Cristo iriam sacrificar a sua vida. É que o Espirito Santo que os apóstolos receberam era o Espírito da Verdade. Por toda parte haveria de guiar os que ouvissem s Boa Nova, acolhendo a verdade que era o próprio Jesus, o vitorioso sobre a morte. Aos fiéis através dos tempos o Espírito Santo infundiria coragem para que anunciassem onde estivessem tudo que Cristo ensinou e prometeu. Nos contextos históricos mais hostis surgiriam sempre notáveis cristãos que venceriam a inquietação e o medo. São aqueles que abriram as portas de seu coração ao Divino Espírito Santo. São todos aqueles que se tornam mensageiros do Evangelho por entre os desafios de cada época. A docilidade e a maleabilidade aos sete dons do Espírito Divino levam os cristãos a encarnarem o fermento da poderosa palavra de Deus que ilumina e salva. O conselho de São Paulo aos Gálatas ecoa dentro da História da Igreja que todos marchemos “sob a conduta do Espírito” (Gl 5,16). Não basta ter sido batizado ou crismado para que se tenha uma vida verdadeiramente espiritual que influencie o mundo. Receber o Espírito Santo e ser por ele guiado significa acolher cada instante da vida como um dom de Deus, sendo todas as ações aquecidas pelo fogo do amor divino. Apenas assim cada um pode ultrapassar os limites terrenos através de uma espiritualização constante que transforma a própria existência e sobrenaturaliza o mundo. É o que bem expressou Elisabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Isto se dá quando o cristão vence as injunções mundanas e as fantasias do egocentrismo, do velho homem de que fala São Paulo. Hoje mais do que nunca todo cuidado é pouco diante das mensagens maléficas dos meios de comunicação social eivados de erotismo e maldosamente contradizendo os preceitos de Deus. A luta contra o espírito do mal que impede que se caminhe livremente sob as luzes do Espírito Santo dura a vida inteira. Foi o que ocorreu cm todos os santos, mas eles se apegaram sempre na fortaleza que lhes vinha da graça. A tudo isto se acrescente que saber receber o Espírito Santo é deixar-se envolver pela Verdade que Ele comunica. O mistério divino é revelado. O cristão precisa ser um permanente discípulo do Espírito, deixando-se ensinar por Ele que deseja penetrar todo o ser humano. Nada de recantos reservados para o mundo e suas paixões deletérias. Lá onde não se permite entrar o Espírito Santo reina a perdição. O cristão deve se sentir livre, inteiramente livre para permitir que a luminosidade celeste o envolva inteiramente. Santa Teresa de Ávila que se entregou totalmente a Deus pôde exclamar: “Louvado seja o Senhor que me livrou de mim mesma”. O fiel assim possuído pelo Espirito Divino passa então a testemunhar Jesus onde quer que esteja. Os apóstolos após Pentecostes, repletos do Espírito Santo, logo passaram proclamar as maravilhas de Deus. Antes estavam entregues a um lamentável mutismo, cheios de medo. Recebido o Espírito Santo suas vozes ressoaram por toda a terra. Pela conduta, pela palavra oportuna o cristão é um profeta da verdade que lhe vem ao coração. Trata-se da força divina, ungidos pela qual anunciam aos outros os caminhos da verdade. Três etapas maravilhosas: receber o Espírito Santo, penetrar fundo nas suas mensagens e saber levá-las aos outros. Eis porque sempre, mas sobretudo neste dia de Pentecostes se deve implorar: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”. É por meio de cada um que se renovará a face da terra (Sl 104,30). Esta é a missão do verdadeiro cristão. Quando o Espírito Santo habita no coração deste cristão este sente a necessidade de atuar junto daqueles que resistem à vontade de Deus e se acham longe dos caminhos da salvação eterna. Rezar para que se convertam e mudem de vida. É um apostolado que faz o mundo melhor e menos sujeito às forças do mal. Aquele que caminha sob a conduta do Espírito Santo progride dia a dia e faz os outros caminharem também numa estrada luminosa que conduz para a vivência total do Evangelho. É o ritmo do Espírito Santo que transforma o meio em que se vive. Saibamos viver sob a unção do Espírito de Deus.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.