Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No colóquio com Nicodemos Jesus introduz o seu seguidor no coração mesmo da Santíssima Trindade ao dizer: “Deus tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16-18). Desde toda eternidade o Pai se conhece. Este conhecimento é eterno, substancial, igual a sua origem, é a segunda pessoa, o Filho. O Pai e o Filho eternamente se amam. Este amor intemporal é o Espírito Santo, Terceira Pessoa, que procede do Pai e do Filho. O Amor de Deus, porém, é dom sem limites e daí a criação do mundo e tudo que nele existe e a vinda do Filho a esta terra, Crer nele é ter a vida eterna. Deus é em si mesmo inclusão de amor que se extravasa de toda a eternidade para a felicidade dos seres criados. Ele os chama à existência e a entrar livremente em uma relação de confiança e de reciprocidade com Ele. O Espírito de Amor faz o liame não somente entre o Pai e o Filho, mas ainda o liame entre todos os que têm fé e o Deus da aliança. A vida de Deus é abertura ao outro e dom sem limites oferecido deste modo aos que nele creem através de Jesus Cristo, que é a imagem, a face do Deus invisível, o Verbo eterno que habitou entre os homens. Assim sendo, o Espírito Santo leva os fiéis a viver a vida mesma de Deus que é partilha e doação. Eis porque o mistério da Santíssima Trindade conduz ao amor fraterno, induzindo a entrar na dinâmica de vida que é em si mesma o ser do Deus Uno e Trino. Dá-se então a imersão na beatitude eterna, repartida a cada um de acordo com seu crescimento espiritual. O Pai ama prodigiosamente a todos que foram criados a sua imagem e semelhança e os ama pessoalmente. O ser racional não é fruto do acaso, mas é alguém conhecido e amado pelo Criador. Com amor eterno Ele amou a cada um e isto de tal modo que enviou o seu Filho único para a salvação da humanidade que O havia ultrajado. Cristo veio como o caminho para uma eternidade feliz no seio deste Deus que é Amor. Daí a necessidade da identificação com o divino Redentor. Compreende-se então o que aconteceu com São Paulo que pôde afirmar: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). Cumpre se assemelhar com Aquele que leva até à Divina Família Trinitária. Sua missão neste mundo foi revelar a solidariedade do amor do Pai em favor daqueles que Ele veio restaurar na liberdade do Amor. É preciso então anunciar o mistério da Trindade como princípio dinamizante no qual consiste toda história de Deus com relação a cada um. Este Deus, contudo, não ameaça nunca a liberdade humana, mesmo porque se o amor a Ele não fosse um ato livre, não teria um valor que se estenderá por toda a eternidade. Entretanto, a energia deste amor livre a Deus está cheio de sentido, porque flui do Espírito Santo acolhido por aquele que tem fé. Aí está a razão pela qual a aceitação ou a recusa do Amor trinitário tem uma repercussão eterna. Aquele, porém, que crê no Filho de Deus possui a sua disposição todos os meios necessários para amar o seu Senhor sobre todas as coisas. Entre estes recursos sobrenaturais se saliente a Eucaristia que é o próprio Cristo, companheiro de jornada rumo à beatitude eterna. Jesus sempre ao lado da penúria humana, que leva a tantas precariedades e até, às vezes, à traição do imenso amor de Deus. Aquele, contudo, que crê em Cristo jamais perecerá, pois se arrependerá sempre de seus erros. Ao mistério trinitário o fiel é chamado a dar seu ato de fé pela qual se obtém a salvação. Eis porque crer é se apoiar em Cristo na sua relação com o Pai e com o Espírito Santo e estar assim em comunhão com as Três Pessoas divinas. Entrar na filiação do Filho e na imersão do Amor é o aperfeiçoamento máximo do cristão. Esta realidade é já vivida neste mundo por todos aqueles que possuem a graça santificante, pois, as palavras de Jesus foram claríssimas: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). A solenidade da Santíssima Trindade é então um convite a cada um para abrir o seu coração a esta realidade que a todos ilumina nos sofrimentos e nos júbilos, nas sombras e luzes, numa caminhada rumo ao dia em que verá este Deus Uno e Trino face a face. Destino sublime que a todos deve envolver na mais completa alegria!
*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.