Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Por ocasião do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Igreja no Brasil celebra este Ano Mariano que nos oferece a oportunidade para aprofundar nossa devoção a Maria de forma sempre mais autêntica. Em vista da obtenção desse objetivo, a CNBB reeditou a Coletânea de Missas de Nossa Senhora, publicada em 1986 por ocasião da comemoração do segundo milênio do nascimento da Santíssima Virgem Maria. Os próprios títulos revelam a riqueza doutrinal e o alimento sólido para uma genuína piedade mariana: Virgem Maria, Filha eleita de Israel; Maria na Anunciação do Senhor; Visitação da Bem-aventurada Virgem Maria; Santa Maria, mãe de Deus; Maria, Mãe do Salvador; Maria, na Epifania do Senhor; Santa Maria na apresentação do Senhor; Santa Maria de Nazaré; Virgem Maria de Caná; Santa Maria, discípula do Senhor; Maria junto à cruz do Senhor; Recomendação da bem-aventurada Virgem Maria; Mãe da Reconciliação; Maria na ressurreição do Senhor; Santa Maria, fonte de luz e de vida; Virgem Maria do cenáculo; Rainha dos Apóstolos; Santa Maria, mãe do Senhor; Santa Maria, nova mulher; Santo nome de Maria; Serva do Senhor; Templo do Senhor; Sede da Sabedoria; Imagem e mãe da Igreja; Imaculado Coração de Maria; Rainha do universo; Mãe e medianeira da graça; Fonte da salvação; Mãe do bom conselho; Causa de nossa alegria; Amparo da fé; Mãe do belo amor; Mãe da santa esperança; Mãe da unidade; Rainha e mãe de misericórdia; Mãe da divina providência; Mãe da consolação; Auxílio dos cristãos; Virgem Maria das Mercês; Saúde dos enfermos; Rainha da paz e Porta do céu.
O Beato Paulo VI, em sua Exortação Apostólica Marialis Cultus, muito nos orienta como proceder para que se desenvolva um culto à Bem-aventurada Virgem Maria, de acordo com os ensinamentos do Magistério da Igreja. Assim, “foi restaurado também o livro da Liturgia das Horas, que encerra preclaros testemunhos de piedade para com a Mãe do Senhor: nas composições dos hinos, entre as quais não faltam algumas obras-primas da literatura universal; nas preces colocadas no final de Laudes e Vésperas, em que não é raro encontrar-se o confiante recurso à Mãe de misericórdia; na seleção vastíssima, enfim, de páginas marianas, devidas a Autores que viveram nos primeiros séculos do Cristianismo, na Idade Média e na Idade Moderna (cf. MaC. 13).
Se no Missal, no Lecionário e na Liturgia das Horas, que são os eixos da oração litúrgica romana, a memória da Virgem Maria se repete com ritmo frequente, também nos demais livros litúrgicos reformados não faltam as expressões de amor e de suplicante veneração para com a Mãe de Deus. Deste modo, pode ver-se que a Igreja a invoca, Mãe da graça, antes de imergir os candidatos nas águas salutares do Batismo; implora a sua intercessão para aquelas mães que, reconhecidas pelo dom da maternidade, se apresentam com alegria no templo; aponta-a como exemplo aos seus membros que abraçam o seguimento de Cristo na vida religiosa ou recebem a consagração virginal, e para eles invoca o seu auxílio maternal; a ela dirige instante súplica em favor dos filhos que chegaram à hora do passamento; dela solicita a intervenção em prol daqueles que fechados os olhos para a luz temporal, compareceram perante Cristo, Luz eterna, e, enfim, suplica, pela sua intercessão, conforto para aqueles que, mergulhados na dor, choram, com fé, a partida dos próprios entes queridos (cf. MaC 14).
Este breve exame dos livros litúrgicos restaurados leva-nos a uma confortante comprovação: a reforma pós-conciliar, como já figurava entre os votos do Movimento Litúrgico, considerou a Virgem Maria com uma perspectiva adequada no mistério de Cristo; e, em sintonia com a tradição, reconheceu-lhe o lugar singular que lhe compete no culto cristão, qual Santa Mãe de Deus e enquanto cooperadora do Redentor (MaC 15).