Arquidiocese de Mariana
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Folhinha de Mariana

FOLHINHA ECLESIÁSTICA DE MARIANA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Publica-se em Mariana desde 1870, portanto há 136 anos, a tradicional “Folhinha Eclesiástica de Mariana”, fundada por D. Silvério para ser um sucedâneo aos calendários, por vezes, uns tanto licenciosos. Ela foi precedida em 1830 pela “Folhinha de Rezas do Bispado de Mariana” que apresentava preces e informações de utilidade pública.

Famosa pelo Regulamento do tempo a folhinha de Mariana que se firmou, no decorrer dos anos, como infalível, tem uma tiragem de cerca de trezentos mil exemplares. É conhecida em todo o Estado e em outras regiões do País.

Em 1959, o então Arcebispo de Mariana, D. Oscar de Oliveira adquiriu os direitos autorais de Agripino Claudino dos Santos e, em 1965, os da similar Folhinha Civil e Eclesiástica do Arcebispado de Mariana, editada pela Tipografia e Livraria Moraes, passando a imprimi-la a Editora Dom Viçoso, que possui o Lunário Perpétuo para os cálculos anuais.

Estes são feitos em torno do ano lunar, cujo início se fez coincidir com lunação que começa em Dezembro. Cada lunação tem a duração exata de 19 dias, 12 horas e 44 minutos. De dezenove em dezenove anos se repetem os fenômenos causados pela influência lunar.

O Lunário Perpétuo oferece as regras para se poder calcular as variações do tempo, conforme registra o referido Regulamento estampado na Folhinha. É claro que tais previsões valem para o contexto geográfico assinalado no referido Lunário Perpétuo.

De 1960 a 1994 fomos o diretor desta Folhinha e nestes 34 anos impressionante a correspondência exaltando a fidelidade deste Calendário em acertar a previsão do tempo. Inúmeros os jornais que publicaram reportagens sobre o mesmo sempre ressaltando este pormenor. É claro que em torno da Folhinha de Mariana se criaram algumas lendas, mas que, no fundo, servem para afirmar o seu alto conceito popular.

Assim que junto do povo por vezes se diz que “é mais fácil em galinha nascer dente do que a folhinha de Mariana falhar!” Conta-se também que alguém telefonou para um amigo de uma cidade vizinha, dizendo-se decepcionado porque a Folhinha de Mariana marcava chuva e nada de chuva. A resposta foi imediata: “Você não perde por esperar!” Pouco depois uma tempestade confirmava lá a previsão “tempo revolto”, repreendendo a dúvida daquele Tomé!

O escritor Carlos Drumonnd de Andrade assim se expressou sobre este calendário em crônica publicada no Jornal do Brasil, dia 27 de Dezembro de 1973, à página 5 do primeiro caderno, sob a epígrafe A Boa Folhinha: “Ela não quer iludir-nos com as pompas deste mundo. Adverte-nos que há dias de penitência, esta última comutada em obras de caridade e exercícios piedosos.

Para cada dia do ano, o santo, a santa ou os santos que nos convém aceitar, como companheiros de jornada: breve companhia, companhia sempre variada, e o ano escoam sob luz tranqüila, mesmo que o tempo seja brusco e haja abundância de água”. Termina o renomado escritor com este conselho: “Vamos à boa, veraz, singela e insubstituível Folhinha de Mariana”.

Esse calendário apresenta orações, instruções religiosas, tabela do amanhecer e do anoitecer, das festas móveis, dos feriados, época de plantio, resoluções da CNBB, dados biográficos do Papa, além de reservar um espaço 11×15 para a propaganda das casas comerciais que distribuem aos fregueses como brinde de fim de ano.

Ao redigir estas linhas estamos com um exemplar deste calendário do ano 2000, enviado por uma Farmácia que “oferece muito mais segurança para sua saúde e garantia de bom atendimento!”.

*Ex-Diretor da Folhinha de Mariana (1960-1994)

2 Comentários para “Folhinha de Mariana

  1. A Folhinha deveria ser tombada como patrimônio imaterial, por fazer parte da história de várias gerações, ultrapassando até mesmo os limites da Arquidiocese. Quantos foram batizados pela Folhinha…

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