Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O episódio da cura do servo do centurião oferece aspectos importantes dos quais fluem ensinamentos preciosos para os seguidores de Jesus (Lc 7,1-10). Aquele soldado romano que comandava cem homens, todos submissos ao imperador romano, foi de uma delicadeza maravilhosa para com Cristo. Ele procura o divino Taumaturgo através de seus amigos judeus. Isto porque ele sabia que pela Lei de Moisés os pagãos então considerados impuros. Não queria por certo constranger Jesus. Respeitava, porém, a religião do povo e era até um benfeitor dos judeus, pois havia construído uma sinagoga. Um servo dele muito estimado estava à beira da morte e, sabedor que era do poder de Jesus, lhe manda emissários para suplicar a cura deste escravo. Desde modo, já estava fazendo um ato de fé no poder daquele rabi tão famoso. Este se dispõe então a ir à casa daquele pagão. O gesto de Jesus provocou uma confissão de humildade, pois, ainda através de seus simpatizantes judeus, ele manda a Jesus uma mensagem extraordinária: “Senhor eu não sou digno de que entres debaixo do meu teto, mas dize uma palavra e meu servo será curado”. Tamanha grandeza provocou fatos notáveis. Com efeito, Jesus diante disto fez um milagre à distância, dado que o doente ficou curado, e exaltou aquele centurião dizendo à multidão que o seguia: “Eu vos digo que em Israel não encontrei tanta fé”. Aquele centuriaão incircunciso tocou o coração do Mestre divino em cuja palavra e autoridade acreditava. À fé e humildade deste soldado se acrescente o seu amor aos judeus e a seu escravo. Jesus levou tudo isto em consideração. O discípulo de Jesus ao fazer suas preces necessita destas virtudes daquele centurião que demonstrou também uma confiança absoluta em Cristo, ao dizer que bastaria uma palavra dele para que se desse a desejada cura. Deus espera sempre uma certeza total da parte de que faz a Ele suas preces. Estas então se tornam capazes de alcançar muito mais além dos desejos do suplicante. É de se notar que, quando aquele soldado pagão se dizia indigno, foi quando ele se mostrou digno de que Jesus entrasse não na sua casa, mas no seu coração. Jesus, em outro dia, entraria na casa de um fariseu chamado Simão (Lc 7,36), mas este, orgulhoso que era, mereceu uma reprimenda e uma lição de humildade. Jesus não entraria no seu coração como entrou no coração do centurião que era pagão. O cristão nunca pode se esquecer de ter fé, aliada à humildade e sustentada por uma grande confiança. Note-se além do mais que o pedido do centurião foi discreto, eivado de caridade para com seu servo e feito com muita diplomacia, finura de trato, pois, inclusive ele achou conveniente de não ir pessoalmente até Jesus, dadas as circunstâncias. Alcançou o milagre por meio de seus intermediários. Muitas vezes Deus quer que nos dirijamos a Ele através daqueles que se tornaram seus leais servidores, ou seja, anjos e santos nossos protetores e, sobretudo, Maria sua mãe, Rainha da misericórdia. Foi assim que Ele agiu, por exemplo, também em Caná da Galileia. A tudo isto se acrescente que nas Missas, antes da Comunhão, o celebrante e os fiéis repetem as palavras do centurião: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Pecadores arrependidos, perdoados através do Sacramento da Confissão, podem então ter a ventura de receber Jesus Eucarístico. Neste momento as faltas veniais também ficam perdoadas com este gesto de fé e humildade. É que mesmo os que se acham em estado de graça são pecadores, pois só Deus é perfeito e santo. Diz São João: “Se dissermos que não temos pecado algum, enganamo-nos a nós próprios e a verdade não está em nós”. Acrescenta este Apóstolo que Jesus “é tão fiel e justo que nos perdoa os pecdos e nos purifica de toda iniquidade” (1 Jo 1, 8-9). Seria um horrível sacrilégio, porém, receber a Eucaristia em pecado mortal, profanando este Sacramento do Amor de Cristo. As faltas veniais não levam à perda da graça santifiante. A atitude do centurião deve levar a todos a bem se prepararem para a Comunhão, evitando ao máximo os pecados leves para usufruírem ao máximo da visita do Mestre Divino. Que todos tenhamos sempre a mesma fé, humildade e confiança do soldado de Cafarnaum e todas as graças salvíficas nos envolverão.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.