Em setembro, no Brasil, celebra-se o Mês da Bíblia que, neste ano, tem como tema Discípulos Missionários a partir do Evangelho de Mateus; e o lema: Ide fazer discípulos e ensinar (cf. Mt 28,19-20).
É uma alegria constatar que a Bíblia é o livro mais editado no mundo. No entanto, não basta ler esse livro simplesmente como uma grande obra da literatura mundial, nem querer esquadrinhá-lo cientificamente, nem muito menos tratá-lo como uma caixa de respostas para satisfazer todas as nossas curiosidades humanas. A Bíblia deve ser recebida por nós como de fato ela é: Palavra de Deus. “As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo. Portanto, já que tudo o que os autores inspirados afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus quis que fosse consignada nas Sagradas Escritura, em vista de nossa salvação” (DV 11).
Preocupa-nos hoje certas tendências, espalhadas inclusive em ambientes católicos, que buscam interpretar a Bíblia ao pé da letra numa perspectiva fundamentalista ou a tratam de maneira mágica como se bastasse abri-la para encontrar respostas prontas para diferentes situações da vida. A esse propósito é bom recordar o que nos ensina o Vaticano II: “Já que Deus na Sagrada Escritura falou através de seres humanos e de modo humano, deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar
atentamente o que os escritores sagrados de fato quiseram dar a entender e aprouve a Deus manifestar por suas palavras” (DV 12).
Na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, diz Bento XVI: “O Sínodo convidou a um esforço pastoral particular para que a Palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja, recomendando que «se incremente a “pastoral bíblica”, como animação bíblica de toda a pastoral». /…/. Dado que «a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo», então podemos esperar que a animação bíblica de toda a pastoral levará a um maior conhecimento da Pessoa de Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina. Por isso exorto os pastores e os fiéis a terem em conta a importância desta animação: será o modo melhor também de enfrentar alguns problemas pastorais referidos durante a assembleia sinodal, ligados por exemplo à proliferação de seitas, que difundem uma leitura deformada e instrumentalizada da Sagrada Escritura. Além disso, como foi sublinhado durante os trabalhos sinodais, é bom que, na atividade pastoral, se favoreça também a difusão de pequenas comunidades, «formadas por famílias ou radicadas nas paróquias ou ainda ligadas aos diversos movimentos eclesiais e novas comunidades », nas quais se promova a formação, a oração e o conhecimento da Bíblia segundo a fé da Igreja” (cf. VD 73).Sem dúvida, esta palavra de Bento XVI encontra grande ressonância em nossos Grupos de Reflexão.
O Papa Francisco, diz-nos na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual: “Toda a evangelização está fundada sobre esta Palavra escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada. A Sagrada Escritura é fonte da evangelização. Por isso, é preciso formar-se continuamente na escuta da Palavra. A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho evangélico na vida diária” (cf. EG 174).
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana