Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

23/nov/2015
Assombro e esperança

Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No início do Advento Jesus numa linguagem apocalíptica descreve os sinais terrificantes no céu e os cataclismos no mundo provocando o pânico das nações: ”Desfalecerão os homens de pavor e com o pressentimento dos males iminentes para a terra, pois as potências celestes serão abaladas” (Lc 21, 26). Entretanto, nos dizeres seguintes registrados por São Lucas raia, paradoxalmente, luminosa esperança: “Quando estas coisas começarem a acontecerem, acrescentou Jesus, olhai para o alto e erguei vossas frontes, porque está próxima a vossa libertação” (v.28); Num contexto profundamente trágico, Cristo lança uma visão otimista. É que o Divino Pedagogo queria orientar o olhar de seus seguidores não para os sinais extraordinários e tristes do fim do mundo, mas para uma atenção necessária sobre a mensagem que os acontecimentos últimos e definitivos da história humana devem suscitar. Isto é absolutamente importante para seus discípulos. Cristo frisou a necessidade da vigilância contínua: “Velai, pois, orando em todo o tempo […] para estardes firmes na presença do Filho do homem!” (v. 36); Ele, o Verbo Eterno de Deus veio a este mundo, nasceu pobre e humilde em Belém, partilhou as provas e dramas da existência humana até morrer ignominiosamente como um condenado por entre as dores do suplício de uma cruz. Ele, porém, que ressuscitou imortal e impassível e foi para o céu por ocasião de sua admirável ascensão, voltará um dia. Mostrar-se-á não mais nas humilhações, mas na glória de seu poder, como Juiz dos vivos e dos mortos. É com relação a esta segunda vinda que cada um deverá se posicionar. Seria um erro calamitoso pensar num futuro longínquo para cair no desleixo de uma despreocupação fatal. A advertência de Jesus sobre estar vigilante é para tirar desta ilusão perniciosa, adiando a perfeita conversão para os últimos dias de vida de cada um. Eis, então, o alerta de Cristo: “O Filho do homem virá quando menos esperardes” (Lc 12,40). As catástrofes que vão acontecendo através das gerações são uma advertência contínua. Guerras, tsunamis, terremotos, sem falar nas situações trágicas da pobreza, dos suicídios, dos mais bárbaros assassinatos que geram insegurança e angústia. Não se trata de imaginar um fim do mundo iminente, mas sim dos últimos acontecimentos da salvação de Deus para cada um. São Paulo que advertiu aos Filipenses para que operassem a própria redenção com temor e tremor (Fl 12,12), também os aconselhou: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4.). Deu-lhes o motivo: “A paz de Deus que supera todo o conceito, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus” (Fl 4,7) Eis aí a maneira de se estar vigilante para escapar da aflição dos últimos dias, porque o verdadeiro cristão vive na confiança, na esperança e no júbilo. Ele confia em Jesus! Este, realmente, não quis instalar a cultura da inquietude, mas levar seus discípulos a terem uma existência que os conduza ao seu Reino eterno. É a vivência amorosa num diálogo contínuo com Deus que oferece o melhor antídoto contra todo desalento. Isto torna o cristão um semeador de esperanças, instaurando o império de Cristo marcado pela justiça e pela paz. Felizes os que no fim de sua trajetória terrena tiverem se ajustado ao plano de Deus e a seu amor. Nada temerá inclusive no fim do mundo. É deste modo que os fiéis entram no tempo do Advento com todo ardor num programa de renovação interior para aguardar o Natal do Senhor. Este nos lembrará o encontro com Cristo na hora de nossa morte e também no seu retorno triunfante no final da história. Remodelado todo o nosso ser, estes encontros com Cristo envolvem na expectativa mais beatificante, conferindo a cada um total segurança, felicidade completa. Isto consequência benfazeja da consagração sem reservas a Deus o que leva uma conduta irrepreensível. Esta é a atitude que é pedida a todos os fiéis durante o Advento, vivendo ainda mais intensamente a salvação que o Filho de Deus oferece a quem O sabe acolher. Cumpre, portanto, deixar crescer dentro do coração este Jesus humilde e fraternal que reaparecerá como Juiz dos vivos e dos mortos. Este Jesus que é mais forte que todas as energias que desintegrarão o mundo no seu ocaso. Quem nele confiar nada terá que temer na conflagração universal, pois este será o dia da vitória de Cristo e de todos que a Ele destemidamente seguiram. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

   

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