“Uma visão panorâmica da região Pan-Amazônica” foi tema da primeira mesa redonda desta quarta-feira, dia 10, realizada durante o Encontro da Rede Eclesial Pan-Amazônica, que acontece em Brasília e reúne cerca de 60 representantes de diversas entidades do Brasil e da América Latina. O assunto foi apresentado pelo doutor em Ciência do Desenvolvimento Socioambiental,José Guilherme Carvalho, e pelo sociólogo na área de Mineração e Direitos Territoriais, Luís Ventura.
José Guilherme focou nos grandes projetos e na articulação da Integração de Infraestrutura Sul Americana (IIRSA), chamando a atenção para o fato de governos e grandes empresas estarem em busca de uma “união bi-oceânica, por meio de projetos de construção de rodovias e ligações hidroviárias com portos”, como o de Tumaco, na Colômbia, os de Manaus (AM), Belém (PA) e Macapá (AP).
Para o pesquisador, “quando os povos indígenas, populações extrativistas, os ribeirinhos, as mulheres e demais grupos sociais que vivem na floresta Amazônica se posicionam contrário aos grandes projetos de infraestrutura, eles são tidos como contrários ao progresso, contra o desenvolvimento da sociedade”.
Já Luís Ventura falou a respeito dos impactos desses projetos sobre as populações tradicionais. Para ele, o modelo do “agro-minério-exportador”, presente na região Pan-Amazônica atualmente, gera “situação permanente de impacto” na vida desses grupos. Segundo Ventura, esse modelo é sustentado pela ideia da região amazônica “como um espaço vazio, com população insignificante e fonte ilimitada de recursos”, e como único caminho possível para o desenvolvimento. Esta situação “nega a sociodiversidade, a existência de limites e de caminhos diferentes”. Por outro lado, o sociólogo observa que para as comunidades tradicionais há um momento de mobilização e organização dos povos e o reconhecimento de direitos.
Ventura também pontuou a grandeza das populações tradicionais, em particular as indígenas, com 390 povos, sendo 137 isolados. São 240 línguas faladas, com 49 famílias linguísticas. A fronteira que distingue essas populações, caracterizando-as como ribeirinhas, pescadores, extrativistas, por exemplo, não é bem definida, mas, segundo o missionário, “a defesa do território, o regime comunitário de propriedade e pertencimento ao lugar é o fio comum” entre esses povos.
Ventura fez ainda um alerta com relação aos países da região que utilizam o discurso de que o crescimento econômico é justificativa para a manutenção de políticas sociais, sendo necessário realizar a exploração e o “progresso” no território. As comunidades tradicionais são afetadas com a morosidade da demarcação de territórios e invasões; no ambiente, com os vazamentos de resíduos, erosões e o desmatamento; e nos modos de vida, como mudança alimentar e de moradia, por exemplo.
Ao falar da importância da consolidação da Rede Eclesial Pan-Amazônica, José Guilherme acrescentou que “não há mais como lutar contra a situação sem ser de forma organizada”.
O Encontro da Rede Eclesial Pan-Amazônica ocorre desde terça-feira, dia 9, nas Pontifícias Obras Missionárias, e prosseguirá até sexta-feira, dia 12.
Com informações da CNBB