Na vida, caminhamos sempre entre o “já” e o “ainda não”. O que já conquistamos e o que sonhamos; a experiência adquirida e a esperança que nos anima. Tudo isso ilumina e enriquece o que de fato existe: o nosso PRESENTE.
Embora não valha a pena viver do passado ou se apegar ao que já se foi, o caminho feito nos ajuda a entender e valorizar o presente. Mesmo sabendo que não vivemos de sonhos, o ideal e a esperança nos puxam pra frente, nos dão força e coragem para superar os obstáculos e limites.
Este tempo de Advento e Natal nos ajuda a compreender e celebrar toda essa realidade. É um convite a fazer memória da vinda histórica de Jesus, quando Deus se fez um de nós e armou a sua tenda em nosso meio. Olhamos para trás com gratidão e reconhecimento. Ao mesmo tempo, nos colocamos numa perspectiva de caminho, alimentando e construindo a esperança da vinda gloriosa de Jesus, quando a justiça enfim será plena, e a vida acontecerá com toda a abundância.
Porém, nossa atenção se concentra no hoje da nossa história. É a vinda de Jesus agora que deve ser preparada, experimentada, construída, celebrada. De que maneira vivemos essa vinda? O que ela provoca em cada um de nós, na família, na comunidade?
Um primeiro convite é para estar atentos aos sinais de Deus. Eles são inúmeros. Muitas vezes escondidos. Mas Deus está aí e nos fala, se comunica conosco, vem ao nosso encontro. Que sinais de Deus percebemos? O que estamos fazendo para percebê-los e valorizá-los?
Por outro lado, embora os sinais sejam um caminho mais rápido na comunicação do mistério, não podemos parar neles. Eles nos transportam para a realidade maior.
O tempo do Natal traz este grande perigo. Pode acontecer que supervalorizemos os enfeites, as luzes, o presépio, o papai noel, a coroa, os presentes, o passado, e não celebremos verdadeiramente a encarnação de Deus em nossa história e sua presença transformadora em nossa vida.
Um exemplo simples: não conseguimos curtir o clima bonito da espera, da construção, da gravidez que deve marcar o advento. Ainda nem entrou dezembro e já as ruas e lojas estão abarrotadas de luzes e de cores. Isso deveria acontecer mesmo só no dia do Natal. Passamos o mês inteiro ouvindo aquelas musiquinhas, que acabam ficando chatas, nos comerciais, nos carros de som, nas reuniões. Quando chega o dia do Natal, nem aguentamos mais ouvi-las ou cantá-las.
Pode acontecer até que enchamos de luzes as ruas e praças, a casa, sem conseguir colocar luz no coração; que façamos um presépio luxuoso, sem perceber que Jesus escolhe o que há de mais simples e pobre para visitar e iluminar.
A cultura do consumo pode transformar nosso Natal em compras, comida, bebida, agitação, quando a única coisa que Jesus desejava mesmo era fazer parte da nossa vida, nos revelar o amor do Pai, e nos convidar a construir um mundo justo e fraterno.
Tudo o mais não passa de pretexto da sociedade consumista, que usa o nome de Deus para lucrar e, muitas vezes, explorar. Que comercializa o sagrado, banaliza o transcendente, buscando os próprios interesses. E nós, se não temos um mínimo de senso crítico, embarcamos nessa, indo em busca de um natal de comes e bebes, músicas chatas e abraços sem graça, alegria falsa e sorrisos amarelos. E aquela festa, que seria para celebrar o encontro com Deus e com os irmãos, para encher o coração de esperança e gratidão, para estreitar os laços e prolongar os abraços, para nos tornar mais solidários e fraternos, pode acabar numa simples ressaca.
É tempo de gravidez. Tempo de construção. Momento de espera ativa e alegre. Deus nos espera em Belém, que significa “casa do pão”, e nos convida a caminhar. A libertação está próxima: preparem os caminhos do Senhor!
Pe. José Antonio