Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

11/jan/2016
Famílias de Gesteira querem resolver os problemas

DSCN3390Gesteira, comunidade localizada no Município de Barra Longa, a 15 km da sede, fica animada com o Mutirão Missionário ocorrido no dia 5 de janeiro, dois meses depois do rompimento da barragem da Vale/BHP/Samarco. As famílias estão certas de que esse Mutirão vai contribuir para o fortalecimento da Comunidade e da sua luta. Elas defendem, principalmente, a reconstrução das casas atingidas e da igreja em local mais alto, fora da área de risco.

 Os participantes da missão, de várias cidades, foram organizados em quatro grupos e visitaram todas as famílias da comunidade, mais de 50, distribuindo o Jornal Pastoral, da Arquidiocese de Mariana, e panfleto conjunto do MAB e do MEPE. À noite houve caminhada celebrativa, saindo da margem do Rio em direção à quadra, lembrando os problemas ainda enfrentados pela comunidade e a necessidade da união e da organização.

Os visitadores sentiram uma comunidade dramaticamente atingida, com casas destruídas, com o Gualaxo do Norte vermelho da concentração de ferro em suas águas e com muita lama acumulada em suas margens, onde antes tudo era verde, um cenário desolador. Houve gente que chorou pela primeira vez: o impacto na saúde é forte! Eles contaram que, no sábado, deu um vento forte e uma poeira vermelha tomou conta de tudo e tapou a visão. Sentiram medo, porque não sabem o que essa poeira pode trazer. Muitos ainda não conseguem dormir com medo da outra barragem se romper. As vias de acesso ainda são precárias. A estrada principal ainda está obstruída por causa da ponte, que foi embora. A comunidade reivindica transporte todos os dias, mas a empresa coloca apenas duas vezes por semana, segunda e quinta-feira. Tanto na sede do povoado quanto no seu entorno, as famílias reclamam de que perderam toda a sua plantação e, até agora, não têm nenhuma solução. E reclamam de que a prioridade da empresa são as fazendas, as capineiras, a ração para as vacas, a produção econômica, e não o povo.  As famílias denunciaram, também, que um funcionário da Samarco bebeu muito, ligou a cirene de alerta e deixou todo mundo assustado.

A Samarco vem aumentando ainda mais o sofrimento do povo, e provocando sua divisão. As caminhonetas, caminhões e máquinas estressam as pessoas. As pessoas não têm informação do seu futuro. Há famílias atingidas querem sair da parte baixa, mas a empresa está apenas reformando a casa. A empresa distribuiu ‘peru de natal’ somente para algumas pessoas escolhidas. E o cartão foi dado apenas para quem foi atingido pela lama.

A empresa está passando um verniz sobre os impactos, claramente para obter a autorização pra continuar a exploração de minério. Dois casos são evidentes. O povo quer a relocação de suas casas, e ela insiste em reforma apenas, deixando a família em área de risco. E está plantando ‘adubo verde’ às margens do rio. São 14 espécies, com adubação química, para esconder a lama. Há lugares na beira da estrada onde já se vê um pequeno tapete verde.

Além da empresa, as famílias sofrem, ainda, com os oportunistas. Entre eles está um advogado. Ele promete resolver tudo e fica com 30% da Causa. Segundo informações, ele já teria mais de 300 famílias em Barra Longa e região.

Além do trabalho em Gesteira, houve distribuição do Jornal Pastoral no dia 6, em Barra Longa, na parte da manhã, avaliação à tarde e reunião com os atingidos às 18 horas.

Esse Mutirão Missionário faz parte de um processo mais amplo de organização do povo, numa parceria entre MAB e Arquidiocese de Mariana,  para  efetiva garantia de seus direitos. Em Gesteira, o MAB entende que a luta pelo Reassentamento garante melhor o direito e vai trabalhar essa opção com a Comunidade. O MEPE vai estar junto nesse empreitada, com visitas periódicas e outras iniciativas.

Antônio Claret

   

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