Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

04/jan/2016
Fazendo comunhão

Não sei se é fato verídico, mas conta-se que Martinho Lutero teve um sonho interessante. Chegando ao céu, perguntou ao anjo que guardava a porta se ali estavam os protestantes. Ele disse que não. Assustado, perguntou:

– Quer dizer que os protestantes não alcançaram a salvação pelo sangue de Cristo?

– Só lhe digo que aqui não se encontra um protestante sequer, afirmou o anjo.

– E os católicos-romanos? Perguntou.

– Também não. Aqui não existem romanos.

– Talvez os seguidores de Maomé, de Buda…

– Nem uns, nem outros.

– Não vai me dizer que o céu está vazio…

– Claro que não. São incontáveis os que aqui se encontram.

– Mas, então, quais são os que se salvam?

– Aqui não se fala de denominações e nem de dogmas, respondeu o anjo. Os que se salvam são os que visitam as viúvas e os órfãos em suas aflições; os que se guardam da corrupção. São os que procuram aperfeiçoar-se, corrigindo-se dos seus defeitos, renascendo todos os dias para uma vida melhor. São os que amam o próximo e renunciam ao mundo, com suas fascinações. São os que seguem pelo caminho estreito. Os que obedecem à voz da consciência, e não os próprios interesses. Os que trabalham pela causa da Justiça e da Verdade. Os que aspiram à glória de Deus, ao bem comum, à felicidade coletiva.

– Compreendo, diz Lutero. Acho que preciso voltar à Terra e promover uma reforma na Reforma.

A diversidade de credos e a multiplicação de Igrejas, a competição entre grupos, o proselitismo exagerado, a corrida ao “mercado religioso”, tudo isso tende a dificultar cada vez mais o diálogo amoroso e respeitoso, o senso de fraternidade e solidariedade, a tolerância caridosa, o testemunho da unidade, grande sonho de Jesus Cristo. Acabamos nos perdendo no labirinto do “tudo é permitido”, do “cada um por si”, seguindo na contramão de tudo aquilo que Jesus propõe.

A experiência da unidade e da comunhão é o caminho mais sensato, a pregação mais eficaz, o testemunho mais convincente. Dá credibilidade ao Evangelho e à ação evangelizadora. É claro que a competição, a intolerância, as divisões tornam-se um dos piores escândalos para os que não creem. Podem até achar interessante a pessoa e a mensagem de Jesus, mas imaginam que isso não consegue converter os corações, não torna a pessoa melhor.

Quanto mais cresce a diversidade, mas se sente a necessidade do diálogo e do esforço de caminhar juntos. Hoje, pode-se dizer que toda família conta com a presença de membros de Igrejas ou crenças diferentes. Será que vamos deixar de nos amar, de conviver, de caminhar juntos, por expressarmos de modo diferente a nossa fé? Como podemos crescer na humildade, na abertura de coração, no amor ao próximo, se aprendemos o segredo da convivência respeitosa! Quanta riqueza iremos adquirir! Quanto poderemos aprender!

Num mundo tão marcado pela corrupção, pela injustiça, pela desigualdade, os cristãos podem se dar ao luxo de caminhar separados ou lutar isolados. Somente na unidade serão de fato sal, fermento e luz, presença transformadora. Os outros não são concorrentes ou adversários, mas parceiros na construção do Reino de Justiça e de Paz. Aqui não se trata de combater contra irmãos, mas lutar juntos contra tudo aquilo que nega os valores evangélicos e impede ou retarda a realização do Reino.

Afinal, todos desejamos a salvação eterna, todos almejamos estar um dia ao lado de Deus, saboreando as delícias da vida eterna. Então, “se vamos passar juntos a eternidade, por que não começar a união agora?”. Por que não fazer desta vida um ensaio para a eternidade feliz?! Como diz o poetisa Cecília Vaz, na música “Se calarem a voz dos profetas”: “Ensaiamos a festa e a alegria, fazendo comunhão…”

   

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