Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

01/dez/2015
Homilia de Dom Geraldo Lyrio Rocha na celebração dos 270 anos da Arquidiocese de Mariana

270 ANOS DA DIOCESE DE MARIANA

Nesta celebração do Dia da Arquidiocese, com o coração agradecido, elevemos nosso hino de ação de graças à Trindade Santíssima pelos 270 anos da Diocese de Mariana.

Novo tempo na história da Igreja em Minas Gerais e no Brasil foi marcado com a criação desta diocese, pela bula Candor lucis aeternae, do Papa Bento XIV, datada de 06 de dezembro de 1745, e a chegada de seu primeiro bispo, Dom Frei Manoel da Cruz, em 28 de novembro de 1748. Criada juntamente com a Diocese de São Paulo e as Prelazias de Goiás de Cuiabá, Mariana é a primeira diocese no interior do Brasil.

Pelo decreto Sempiternum humani generis, datado de 1º de maio de 1906, a Diocese de Mariana foi elevada à categoria de Arquidiocese, tendo como sufragâneas as dioceses de Goiás, Diamantina e Pouso Alegre, e Dom Silvério constituído seu primeiro arcebispo.

O que é uma diocese? O Concílio Vaticano II, no decreto Christus Dominus assim define: “Diocese é a porção do Povo de Deus, que se confia a um Bispo para que a apascente com a colaboração do presbitério, de tal modo que, unida ao seu pastor e reunida por ele no Espírito Santo por meio do Evangelho e da Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está e opera a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica” (CD 11).

OBRIGADO, SENHOR, PELA DIOCESE DE MARIANA

Os Bispos colocados à frente desta Igreja particular, garantiram que aqui perdurasse a missão divina confiada por Cristo aos Apóstolos e o Evangelho fosse anunciado com fidelidade. “Os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade, presidindo em lugar de Deus ao rebanho de que são pastores como mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo.

E assim como permanece o múnus confiado pelo Senhor singularmente a Pedro, do mesmo modo permanece o múnus dos Apóstolos de apascentar a Igreja, o qual deve ser exercido perpetuamente pela sagrada Ordem dos Bispos. Ensina, por isso, o Concílio Vaticano II que, por instituição divina, os Bispos sucedem aos Apóstolos, como pastores da Igreja” (cf.LG 20).

A bela história desta Igreja particular foi escrita também por muitos presbíteros, religiosos, religiosasas e inúmeros cristãos leigos e leigas que se dedicaram à causa do Evangelho e souberam plantar, neste solo fecundo, as sementes da fé, cujos frutos nós estamos colhendo com alegria e gratidão. As marcas aí se encontram, não apenas no extraordinário acervo histórico, artístico e cultural que nos deixaram nossos antepassados, mas, sobredudo, no patrimônio precioso da religosidade profunda que caracteriza nossa gente e no dinamismo apostólico de nossas regiões pastorais, foranias e paróquias com suas comuniddes, pastorais, movimentos eclesiais, associações religiosas, irmandades e confrarias.

A todos nós compete levar adiante a construção do grande edifício espiritual da Igreja do Senhor Jesus, sinal e sacramento do Reino de Deus. Mas, estejamos atentos ao que nos diz o Apóstolo Paulo, como ouvimos na primeira leitura: “cada qual veja bem como está construindo. De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que está aí colocado: Jesus Cristo” (1 Cor 3,10-11).

NÓS VOS LOUVAMOS, SENHOR, PELA NOSSA HISTÓRIA

Celebramos também os 265 da fundação do Seminário. Segundo Diogo de Vasconcelos, o Seminário de Mariana, fundado por Dom Frei Manoel da Cruz, “foi o primeiro estabelecimento de ensino em Minas, e, se é certo que homens notabilíssimos brilharam no cenário de nossa história, quer no estado eclesiástico, quer no político, todo o esplendor que deles ainda refulge e se derrama em honra do passado foi daquela casa que saiu”. Entre os ex-alunos do nosso Seminário destacam-se mais de 50 bispos, entre eles 03 cardeais.

Como grande presente de aniversário, o Seminário de Mariana, neste ano, teve a graça de ver seu ex-aluno Padre Francisco de Paula Victor elevado às honras dos altares, com sua beatificação no último dia 14 de novembro.

OBRIGADO, SENHOR, PELO SEMINÁRIO DE MARIANA

Neste dia, comemoramos também os 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, o maior acontecimento eclesial do século XX. Convocado por São João XXIII e conduzido depois pelo Beato Paulo VI, o Vaticano II abriu as portas da Igreja para o diálogo com o mundo contemporâneo e, na volta às fontes, inaugurou o grande processo da renovação eclesial que ainda está em curso.

NÓS VOS LOUVAMOS, SENHOR, PELO CONCÍLIO VATICANO II

Esta celebração marca o início do processo de elaboração do Projeto Arquidiocesano de Evangelização para o quadriênio 2016-2020. Todas as forças vivas de nossa Igreja particular estão convidadas a entrar nesse processo. Iluminados pela palavra e pelo testemunho do Papa Francisco, queremos ser uma Igreja “em saída” em direção aos afastados, especialmente os que se encontram nas periferias humanas e geográficas.

Mesmo enfrentando os enormes desafios dos tempos atuais, em meio às incompreensões, sofrimentos, adversidades e até perseguições, não podemos esmorecer, pois, acompanha-nos a certeza de que a Igreja de Jesus está edificada sobre rocha firme. Disse Jesus a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre essa pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18). Expressamos aqui nossa comunhão com o Papa Francisco, Pastor universal. A Igreja particular de Mariana quer, com fidelidade, caminhar com o Sucessor de Pedro e sob a sua autoridade.

Com ardor missionário, queremos responder à interrogação que Jesus dirige aos seus discípulos de ontem e de hoje: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Com Pedro, queremos proclamar com os lábios, o coração e a vida: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (cf. Mt 1613.16).

SENHOR, FAZEI-NOS CRESCER NO ARDOR MISSIONÁRIO

Nesta celebração queremos também expressar nossa solidariedade com todos os irmãos e irmãs atingidos pela enorme tragédia do rompimento das barragens de Fundão e Santarém, no Município de Mariana. Solidarizamo-nos com os irmãos e irmãs de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Ponte do Gama, Pedras e Barreto; com as comunidades urbanas e rurais do Município de Barra Longa, como também com os demais municípios dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, banhados pelo Rio Doce.

Nossa tristeza é grande, a dor é profunda, os prejuízos são enormes, a desolação não tem tamanho; mas, a fortaleza da fé e a solidariedade fraterna ultrapassam a tudo, reconfortam e encorajam. Entre os escombros, brotam sinais de vida e ressurreição. Deus está presente. O Ressuscitado comunica vida onde está a morte. O Espírito Santo acende a chama da esperança no meio de tantos gemidos. A oferta que faremos na coleta desta missa será destinada à ajuda fraterna aos atingidos especialmente nos municípios de Mariana e Barra Longa.

SENHOR, FAZEI-NOS CRESCER NA SOLIDARIEDADE

Trazemos ao altar a caminhada de nossa Igreja Particular quase tricentenária. Por intercessão de Nossa Senhora da Assunção e de São José, Padroeiros de nossa Arquidiocese, imploramos as bênçãos de Deus para que todos nós, ministros ordenados, consagrados e consagradas, cristãos leigos e leigas, seminaristas e vocacionados, possamos anunciar Jesus Cristo ao mundo de hoje e edificar sua Igreja viva.

Com o Salmista dizemos: Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos, a Diocese de Mariana!” (cf. Sl 137). AMÉM!

Homilia de Dom Geraldo Lyrio Rocha, no Dia da Arquidiocese, por ocasião do 270º aniversário da criação da Diocese de Mariana, na Arena Mariana, aos 28 de novembro de 2015.

   

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