Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

19/nov/2012
Jesus Cristo, Rei do Universo

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Cristo abertamente declarou a Pilatos, governador romano da Palestina: “Eu sou rei” (Jo 18,38). Frente a frente com o Soberano do Universo, Pilatos tinha tudo para discernir que Jesus era Deus. As palavras do Mestre divino não tocam, porém, seu coração. É o próprio Redentor quem nos explica isto: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Aquele homem público vivia à sombra da falsidade e entraria na História como o protótipo do hipócrita.

Não encontraria nenhum mal naquele que trouxeram a seu tribunal e, no entanto, num gesto inteiramente incoerente, lavou as mãos e o entregou a seus inimigos. O segredo para atingir a grandeza do Filho de Deus, que é Rei, é se deixar guiar pela verdade,  Esta  leva à comunhão com Cristo ao se perceber e seguir as moções do Espírito que induz a admitir o Salvador como o Senhor absoluto de todas as coisas e de tudo  que há de mais profundo no ser humano. Isso requer muita humildade para dobrar a inteligência ao que Ele ensinou e curvar a vontade ao que Ele preceituou. Quem O descobre e O aceita se conforma com o que é objetivamente moral,  se submetendo, assim,  a este Rei que veio dar testemunho da verdade e é o Senhor do universo.

Então, quem crê em Jesus se liberta dos laços paralisantes do egoísmo, dominando a auto-suficiência. Resiste às tendências do mal para obedecer aos desígnios deste Mestre inigualável e se entrega, confiadamente, ao seu ardente amor. Isto, contudo, demanda coragem, determinação para acatar inteiramente a verdade divina, a verdade do Deus que é amor. Aí está o único caminho para acatar  a Cristo e para fazer a experiência daquela plenitude que é privilégio dos cidadãos de seu reino eterno. Todo cuidado é pouco para não se tornar surdo à voz discreta deste Soberano, como aconteceu com Pilatos. Isto é tanto mais necessário no contexto atual, no qual, como lembrou Bento XVI, reina um horripilo relativismo.

Este  desvio impera na sociedade moderna e é um dos maiores obstáculos para se aceitar a realeza de Jesus. Na sua preleção à Comissão Teológica Internacional dia 5 de outubro de 2007 o Papa alertou, principalmente sobre o relativismo ético. Este, de fato, leva a negar a objetividade intrínseca de tudo que o Filho de Deus testemunhou sobre a verdade. Ficam em cheque os princípios fundamentais da lei moral natural e a própria ordem democrática resta abalada nos seus fundamentos.

Contudo, pertencer a Cristo Rei é possuir à Verdade absoluta. Deste modo, se encontrará a liberdade oferecida pelo Redentor, a  paz e uma força da alma que só sua graça pode conceder. Para escutar sua voz é preciso, porém, conhecer profundamente tudo que Ele pregou. A verdadeira inspiração do súdito de Cristo Rei não pode advir das mensagens utópicas dos falsos formadores de opinião que se acham longe da visão cristã do mundo. O verdadeiro seguidor deste Rei não deve ir beber suas inspirações nas fontes malsãs de uma literatura hedonista, materialista, erotizante. O mundo secularizado de hoje se opõe à verdade que Cristo Rei trouxe a esta terra, por ser um mundo muitas vezes anticristão.

Quem vive em função dos programas televisivos, das atrações mundanas veiculadas pela internet, dos sites pornográficos e não para a fim de orar silenciosamente, entrando no seu coração e procurando alimentar sua fé na palavra de Deus, não será jamais um fiel servidor do Rei Jesus. Este promete  a imperturbabilidade que o mundo não oferece. Cumpre pertencer  a Cristo e somente a Ele. Trata-se de se viver inteiramente a realidade batismal, dando um sentido profundo à existência de quem se diz cristão. É mister que se lembre sempre que o palácio deste Rei é o coração de cada um de seus súditos. Ele quer que seu amor seja vitorioso e fonte de todas as alegrias, da felicidade integral.

Então se estará em condições de levar a toda parte seu reino de paz e de amor, de ternura e de bondade. São felizes os que são artesãos destas realidades sublimes por pertencerem de fato ao Reino de Amor oferecido por Jesus. Não se trata de um amor qualquer, mas amor generoso que procura a ventura de todos, porque descentralizado de si mesmo. Para viver sua realeza, Jesus escolheu o caminho da simplicidade, do sacrifício, da imolação. Assim sendo, seu reino é sem limites, reino de vida e de veracidade, de graça e santidade, de justiça e de dileção.

O que conta para quem O segue é acolher sua graça que transforma o coração humano. Ser súdito de Cristo Rei é, em síntese, tomar o caminho do serviço ao próximo, da dileção gratuita, do perdão. Jesus, entretanto, alertou: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”, ou seja, quem não é sincero, reto, será como Pilatos o qual não compreendeu a grandeza deste Rei.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

   

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