Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus já celebrizado pelo povo por causa de seus milagres e a beleza de seus ensinamentos voltou à sua cidade de origem, Nazaré, e, como de costume, se pôs a ensinar na Sinagoga (Lc 4, 21-30). Cristo que conhecia bem a mente de seus conterrâneos, com sua franqueza habitual, afirmou: “Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”. É que o verdadeiro profeta é sempre desprezado, dado que sua palavra incomoda. Os nazarenos, além disto, não tinham confiança absoluta em Jesus e duvidavam de sua missão. Por isto, na sua Cidade, Cristo não operaria nenhum prodígio.
Por causa da inveja de outras localidades, sobretudo ante os dois exemplos apresentados por Jesus, eles ficaram furiosos, e como registrou o Evangelista, “levantaram-se e o expulsaram da cidade”. Cumpre não se repita nunca o mesmo erro dos habitantes de Nazaré. A Europa e os países colonizados pelos europeus se tornaram para o cristianismo o que Nazaré foi para Jesus: o lugar no qual foi educado, cresceu e se preparou para sua missão redentora. Cristo nasceu em Belém, mas fez de Nazaré o lugar de seu crescimento humano. Historicamente o fato se repetiu, pois foi na Europa e nas colônias de seus principais países que cresceu o cristianismo. Neste início do século XXI se corre o risco de se repetir o erro dos nazarenos.
A Carta constitucional da nova Europa, a difusão espantosa do islamismo, a negação prática do Evangelho pelos que se dizem cristãos, a imoralidade que campeia nos meios de comunicação social e tantas outras manifestações agressivas ao Mestre divino mostram que Ele vem sendo expulso de corações que o deveriam acatar, reverenciar, vivendo em plenitude sua doutrina, para merecer que Ele multiplique os seus milagres. Os nazarenos até o levaram a um alto monte e O queriam lançar no precipício. Jesus passou no meio deles e foi anunciar o Reino de Deus em outra parte. Ele não se impõe, Ele se propõe e respeita sempre a liberdade de cada um, mas longe dele só desgraças, infelicidades, catástrofes. Hoje, mais do que nunca, é preciso se recordem as palavras de Santo Agostinho: “Temo a Jesus que passa e que pode não voltar”. A passagem do Mestre divinino é sempre uma passagem de graça, de bênçãos, mas Ele conhece o fundo dos corações e percebe se há ou não sinceridade da parte dos que O invocam e se dizem seus epígonos. Mister se faz receber a Palavra anunciada por Ele e crer. Crer é fazer um ato de fé que implica uma mudança de vida, uma adequação absoluta ao projeto traçado pelo Salvador.
Sem esta fé é impossível agradar a Deus e isto significa acatar a graça divina pela qual se pratica o bem e se foge do mal. Inclui a metanóia, ou seja, uma mudança de mentalidade, de propósitos, de intenções. Supõe o arrependimento das faltas, no abandono sincero de todo pecado e, além disto, o desgosto pelas aberrações morais que se propagam por toda parte, não concordando com tantas falsidades apresentadas pelos meios de comunicação social e, até, por muitos que se dizem adeptos do Evangelho. Em Nazaré, e como sói acontecer através dos tempos, Jesus não envia o fogo do céu para castigar as iniqüidades humanas.
Dá tempo para a conversão, um dia Ele virá para convencer o mundo no que concerne ao pecado, à justiça e ao julgamento (Jo 16,8). Entretanto, aquele que nele sinceramente crê, invoca seu nome, luta tenazmente contra o maligno e seus sequazes, não acatando suas insinuações diabólicas. Conhece, então, a salvação e não será confundido (Rm 10,9). Nunca se pode olvidar o alerta de Cristo: “Não é aquele que diz Senhor, Senhor que entrará no reino dos céus, mas, sim, aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Era isto que desconheciam os nazarenos que o expulsaram de sua Cidade. Que ninguém queira banir Jesus de seu coração”!
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.