Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Em várias oportunidades Cristo firmou com termos sugestivos sua missão soteriológica. Assim é que lemos em São Marcos: “O Filho do homem veio para dar sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,45).
Cumpre sempre penetrar fundo nas várias dimensões da obra salvífica do Filho de Deus. Nela resplandece uma misericórdia infinita e um amor sem limites da parte do Ser Supremo. Trata-se de uma libertação bem expressas nas ações divinas no Antigo Testamento, no qual surge Moisés como figura principal da redenção do povo.
O Criador mostra, porém, que a salvação não preserva do sofrimento terreno, mas se concretiza além morte no Reino messiânico. O Messias anunciado virá para reconciliar o homem com Deus, libertando-o do pecado, que fora um rompimento que exigia um Pontífice que construiria a ponte entre a terra e o céu, possibilitando a entrada no paraíso perdido. Isto significaria uma renovação total do ser pensante.
A ação salvadora de Deus atingira seu clímax no sacrifício salvífico do Verbo que se encarnando, enquanto homem e Deus, repararia toda a catástrofe ocasionada pela desobediência edênica. Cristo foi o portador definitivo da redenção, do resgate da humana estirpe. Eis porque São Paulo dizia aos Coríntios: “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1 Cor 1,23) […] “Transmiti-vos, pois, em primeiro lugar o que eu mesmo havia recebido, que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, que foi sepultado e que ressuscitou ao terceiro dia” (1 Cor 15,3).
É este o ponto de partida da reflexão teológica deste Apóstolo, que apresenta na Cruz a verdadeira sabedoria. Eis a razão pela qual ele dirá aos Gálatas: “De minha parte, que eu jamais me glorie a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo que fez do mundo um crucificado para mim e de mim um crucificado para o mundo” (Gl 6,14).
Portanto, compreender a redenção de Cristo é fazer de sua cruz o distintivo do cristão e isto como condição de salvação, pois, como foi dito pelo Apóstolo aos Filipenses o fim dos que procedem como inimigos da cruz de Cristo é a perdição, pois se interessam tão somente pelas coisas terrenas (Fl 3, 18-19).
A Cruz redentora estabelece para o seguidor de Cristo um critério, ou seja, ele passa a usar tudo que está no mundo em função do espírito, jamais se apegando às ilusões terrenas e mesmo evitando corajosamente tudo que pudesse, ainda de longe, obstar a chegada à Jerusalém celeste. Isto bem dentro do que o próprio Salvador falou ao Pai: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal.
Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo” ( Jo 17, 15-17). Tudo isto como muito bem compreendeu São Pedro que assim se expressou: “Ele carregou os nossos pecados no seu corpo sobre a cruz, a fim de que, mortos para o pecado, vivêssemos para a virtude” (1 Pd 1,24). Cristo, de fato, é o Redentor enquanto resgatou a humanidade de toda iniqüidade e a purifica como povo que lhe pertence.
Eis por que o cristão deve viver a libertação que Jesus lhe oferece e cumpre esteja consciente de que foi remido “a preço de coisas corruptíveis, como a prata e o ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo” ( 1 Pd 1,19). O batizado não pertence, portanto, a o Maligno, mas Àquele que o resgatou. Ele é propriedade de Deus. Todas estas verdades atinentes à redenção devem levar o cristão a imergir no mistério de amor que ela significou.
Amor do Pai que “amou o mundo a ponto de dar-lhe seu Filho único” (Jo 3,26). Amor do Filho que amou os homens até o fim, até a consumação de uma dileção sem limites (Jo 13,1). Amor do Espírito Santo que veio para santificar, fortalecer, iluminar os que foram remidos por Cristo. Ora, “amor com amor se paga” e é valorizando a obra soteriológica que cada um manifesta sua gratidão à Trindade Santa.
Mister se faz que a obra nefasta do pecado que foi reparada pelo divino Redentor se manifesta na existência santa dos que crêem nesta dileção imensa do Ser Supremo.
* Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.