Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na Sinagoga de Nazaré Jesus fez a leitura do Isaías que anuncia a vinda do Messias, o qual curaria os doentes e anunciaria a Boa Nova aos pobres. Solenemente Cristo afirma “Cumpriu-se hoje esta palavra que acabais de ouvir” (Lc 4,14-22). Portanto, o Messias estava entre eles e realizaria tudo que o Profeta declarara. Nesta ocasião do anúncio de sua messianidade todos estavam maravilhados por causa das palavras luminosas que fluíam dos lábios de Jesus. Ele era, realmente, o Messias enviado pelo Pai, que revelaria os segredos de Deus. Eis aí o cerne do mistério da Encarnação. Deus habitou entre os homens. Ele evangelizaria e a Boa Nova chegaria aos pagãos e ecoaria por toda a terra. Não apenas o povo judeu seria beneficiário das promessas divinas, mas também os estrangeiros de todas as nações. O Messias traria uma salvação universal, ou seja, para toda a humanidade. Uma multidão de remidos através dos tempos. No coração da atividade salvífica de Cristo, o Messias, estaria presente o Espírito Santo que Ele enviaria a todos os seus seguidores a fim de dilatar o Reino de Deus em todos os povos. Uma obra messiânica de liberdade, de luz, de bondade, de misericórdia. Os conterrâneos de Jesus que o ouviram na Sinagoga de Nazaré pararam na admiração, não fizeram um ato de fé em Cristo-Messias e iriam até expulsá-lo daquela cidade. Cumpre então fixar o que Jesus falou naquela Sinagoga. “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura”. Isto Ele está a dizer a cada um que escutou esta assertiva. Hoje é o dia da salvação, se sua palavra encontrar sua realização, seu significado lá dentro de cada coração, reconhecendo nele o Messias, o Profeta portador do Espírito vivificador. Hoje Jesus nos oferece palavras de esperança e de júbilo. Ele é o Messias que vem a nós pobres, muitas vezes cativos das aliciações demoníacas, cegos que não sabem interpretar os acontecimentos da vida, oprimidos por tantos males. Hoje Ele quer que lhe entreguemos as cadeias que prendem corações às ilusões terrenas ou que paralisam o amor cotidiano para com os mais necessitados, tudo que retém o elã de uma absoluta confiança diante do futuro pessoal e da comunidade na qual se vive. Hoje Ele quer abrir os olhos de todos para um verdadeiro louvor a Deus e serviço ao próximo. Ele quer ajudar a todos a tirar o jugo das próprias paixões terrenas ou do peso dos erros passados, dizendo que sua misericórdia é infinita e que Ele pode curar todas as feridas. Oferece a liberdade, porque seu amor é sem fronteiras e ininterrupto. Ele oferece a todos aquela alegria que nem o mundo, nem satanás, nem ninguém pode impedir de se possuir. Para isto é preciso “ter sempre os olhos fixos nele”, como acontecia com os que O ouviam na Sinagoga de Nazaré. Nada longe dele, de seu mistério de dileção, de sua obra soteriológica. Quando Jesus começou sua missão pública Ele encontrou todos os obstáculos vindos daqueles que não compreenderam sua messianidade Sua vida iria terminar com a catástrofe da crucifixão. Esta não seria, contudo, o final de sua tarefa de Messias, porque sua missão messiânica se estenderia através dos séculos, mesmo porque Ele ressuscitaria imortal e impassível. Jesus-Messias inscreveu na História o selo definitivo da misericórdia redentora de Deus. O episódio do Calvário não representou o fracasso deste desígnio divino, mas, pelo contrário, confirmou num espetáculo de amor incomensurável a tarefa messiânica do Filho de Deus. Para seus seguidores não haveria nunca qualquer ambiguidade na obra salvífica empreendida por Jesus. O que Ele afirmou na Sinagoga de Nazaré, revelando-se como o Messias, diante da lógica da fé, se apresentaria luminosamente em todo decurso de sua existência. Sua missão messiânica seria, porém, sempre uma missão espiritual da qual estava ungido, da qual todo seu seguidor deve estar conscientemente investido. Trata-se, como bem se expressou Maurice Zunde, de criar um Reino universal sem distinção de raça, de nação, de povo, de classe social. Na sua missão de Messias a trajetória de Cristo neste mundo seria alternada de momentos de triunfo e de perseguições, pois Ele jamais trairia a mensagem que veio trazer a esta terra. De Nazaré mesmo onde encantava os ouvintes, seria logo depois expulso. Ao Domingo de Ramos se seguiriam os julgamentos e a crucifixão da Sexta Feira subsequente. Na sua pregação não haveria em momento algum qualquer tipo de obscuridade. Ele veio ofertar à humanidade uma visão admirável de Deus. Este não se situa numa ordem de grandeza meramente exterior, mas numa ordem interior, ordem de amor, cuja prova definitiva seria o sacrifício redentor de seu próprio Filho. Em Nazaré, Jesus se revela como Messias cuja missão foi pregar a Boa Nova e amparar os necessitados. É pelo dom de si mesmo a Ele que cada um acataria sua mensagem e com humildade receberia todo o influxo benéfico de sua tarefa messiânica.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.