Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Marcos assim se expressou sobre a postura de Jesus no templo de Jerusalém: “Sentando-se, depois, defronte do tesouro, Ele observava como a gente lá deitava moedas” (Mc 12,41-44). O Divino Redentor era um observador atento às atitudes humanas. Segundo Ele as simples realidades da vida estão cheias de lições para quem sabe contemplá-las com o coração. Para Ele interessava muito como as pessoas procuravam a Deus e falavam com o Pai do Céu. Eis por que Ele estando na Casa do Pai olhava serenamente como as pessoas traziam suas ofertas, oferecendo o dinheiro do culto. Uma pobre viúva não possuía senão duas pequeninas moedas que ela generosamente ofertou. Aquele gesto tocou o coração de Cristo. Chamou então seus discípulos e lhes comunicou um ensinamento precioso: “Esta pobre viúva colocou no tesouro mais do que todos”. Os outros haviam oferecido o que tinham de supérfluo, ela tudo que possuía, todo o seu sustento. Sua pobreza não a intimidou. Apesar de ser pobre, ela tinha alguma coisa para dar a Deus. Demonstrava um desprendimento notável e o futuro a Deus pertenceria. Ela preferia antes de tudo servir a seu Senhor. Como a outra viúva de Sarepta que sacrificara por Elias sua última porção de farinha, ela entregou para o culto divino as duas últimas moedinhas que lhe restavam. Não teve medo de sua pobreza mesmo diante dos circunstantes. Ela bem que poderia pensar: “De que vai valer tão escassa oferta, enquanto os ricos estavam a contribuir com muito mais”? Assim guardaria o pouco que tinha consigo. Ela, contudo, não se entristecia com sua miséria e nem perdia tempo em se comparar com os outros Naquele instante ela, bem que indigente, sacrificou a Deus sua própria pobreza. Este gesto comoveu o meigo Rabi da Galileia. Era a maneira que ela tinha para dizer a Deus que ela O amava. É que Deus acolhe com alegria não o que se oferece a Ele, mas como isto é oferecido. Naquele instante Jesus como que reviu sua atitude sublime, pois como diria São Paulo, “Ele que de rico que era, se fez pobre para enriquecer os homens com sua pobreza” (2 Cor 8,9). Pelos caminhos da existência afora quantos se sentem desprovidos de tantas coisas como de saúde, de apoio, de amizade, de um maior conforto, de uma melhor qualidade de vida. Muitos então chegam até se revoltar contra Deus e passam a invejar o próximo e caem na baixa estima. A viúva do Evangelho de hoje mostra, porém, outra visão. Cumpre saber fazer das deficiências próprias uma oferta magnânima ao Senhor e se colocar a serviço do Reino. Se é verdade que cumpre a cada um trabalhar para melhorar sua situação, jamais o verdadeiro cristão se desespera e sempre confia em Deus. O gesto da viúva exaltado por Jesus é um convite à generosidade para com as Obras Sociais, para com as diversas Pastorais, para com o compromisso do Dízimo. Tudo de acordo com as possibilidades pessoais viáveis, pois Deus nunca deixa de retribuir tudo com muito mais do que qualquer ajuda por tão nobres causas. Ao contrário dos homens o Criador olha não as aparências, mas a sinceridade que envolve o que é feito para sua glória e bem do próximo. Trata-se de uma relação de amor e de fé na qual está engajado o seguidor de Cristo. Este está sempre longe do “aparecer” para estar na lógica do “ser”, daquilo que realmente é perante Deus. Os bens materiais bem aplicados nas tarefas da Igreja têm um valor imenso diante do Ser Supremo. Há sempre uma maneira sábia de gerenciar o que se tem visando o bem comum dentro da comunidade eclesial na qual se vive. Eis o cerne da mensagem que hoje Jesus quer nos transmitir. Nem se pode esquecer que Jesus espera de cada um não tanto o que tem, muito ou pouco, mas o que cada um é. Muitas vezes os mais pequeninos serviços prestados aos outros valem mais do que grandes doações. Não é então o dar, mas, sim, o doar-se para o bem do próximo. Jesus ofereceu o exemplo, pois se sacrificou até à morte e morte de cruz por toda a humanidade e na Eucaristia se fez o alimento de todos que nele creem. Deus quer que sejamos simples diante dele e diante dos homens, fugindo de toda hipocrisia ao negar o adjutório que se possa dar aos outros, limitando-se a ostentar o nome de cristão. Nunca o nosso pão é tão pequenino que nós não o possamos partir com os outros. Jamais somos tão pobres como a viúva do templo que não estejamos em condições de cooperar com as obras da Igreja. Pensemos nisto! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.