A Arquidiocese de Mariana começa a discutir a implantação da pastoral afro-brasileira, respondendo ao forte clamor que veio do V Fórum Social pela Vida, realizado em 2013, na cidade de Piranga. Trata-se, na verdade, de um desejo antigo e que só agora começa a se concretizar. Um encontro programado para este mês de novembro, na Casa de Retiros Nossa Senhora da Alegria, na Vila Samarco, marcará, de maneira significativa, a consolidação dos passos nessa direção.
A origem da pastoral afro-brasileira remonta aos anos 1980 e toma impulso com a Campanha da Fraternidade de 1988 que trouxe o tema “A fraternidade e o negro” sob o lema “Ouvi o clamor deste povo”. A Campanha ajudou a sociedade brasileira e a Igreja, em particular, a tomarem consciência da dura realidade de preconceito, discriminação e sofrimento enfrentada pela população negra no país. Levou a Igreja a assumir um compromisso de luta em defesa dos direitos de nossos irmãos negros e negras. Integrada às pastorais sociais, a afro-brasileira tem, entre seus objetivos, ajudar os negros a assumirem sua negritude, resgatando sua história e cultura. Por isso, incentiva o surgimento de grupos de negros que reafirmem sua identidade na Igreja e na sociedade. Além disso, favorece a integração dos grupos e das iniciativas em defesa dos direitos dos negros e negras brasileiros, participando da construção de uma nova sociedade, sem discriminação e preconceito.
É impossível pensarmos o Brasil sem a influência da cultura, da arte, da religiosidade afro-brasileiras. À população negra se deve, em grande parte, a religiosidade popular que marca nossa Igreja. São devoções, procissões, danças, congadas e tantas outras expressões que traduzem a fé e a espiritualidade da cultura negra. A Arquidiocese de Mariana é testemunha da força dessa religiosidade herdada dos negros, presente ainda hoje em muitas de suas comunidades.
A urgência da pastoral afro se faz perceber pela situação de preconceito e discriminação presente em nossa sociedade. Se antes isso parecia velado, agora está cada vez mais explícito, especialmente, por meio das redes sociais. Cresce a intolerância que leva à violência. A resistência às políticas afirmativas, que tentam saldar uma dívida histórica do Estado com a população negra, bem como ao Estatuto da Igualdade Racial, que visa ao resgate da cultura negra e defesa dos direitos dos afrodescendentes, é prova de que um longo caminho se tem a percorrer para a plena integração da população negra em nosso país.
Em nossa Arquidiocese, a pastoral afro poderá ser uma grande força nessa luta e também no esforço de fazer com que a população negra, presente em tantas de nossas comunidades, assuma sua negritude e expresse sua cultura e religiosidade, que tanto nos enriquecem. Isso torna esta pastoral urgente e necessária.
Pe. Geraldo Martins
Coordenador de Pastoral