Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

30/nov/2015
Preparar o caminho do Senhor

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Num estilo bíblico, São Lucas situa o ministério de São João Batista, referindo-se aos reis e príncipes daquele contexto histórico (Lc 3, 1-6). Estes dados, que são confirmados pelas inscrições e crônicas da antiguidade não são destituídos de importância. Com efeito, oferecem com precisão a situação política e espiritual na qual vai ressoar a mensagem do Precursor de Jesus e, também, posteriormente a pregação de Cristo. A Judéia era apenas uma província do Império romano. Tibério César, o imperador lá não se achava, mas o governador Põncio Pilatos administrava o país com suma rigidez. O Sumo Sacerdote Caifás era um diplomata astucioso, numa atitude mais política do que religiosa. Quer na Galileia, como em Jerusalém os surtos de nacionalismo eram severamente reprimidos e os filhos de Israel humilhados pelo ocupante, sem perspectiva alguma. Sua esperança se firmava apenas em Deus. Reinava então uma sede espiritual, sobretudo em certos grupos piedosos. Quando surge João Batista, havia comunidades monásticas que reuniam homens, mulheres adultos e jovens. Estas proliferavam ao longo do Mar Morto, guardando as tradições ascéticas dos essênios. Os essênios eram um grupo que havia se afastado do judaísmo tradicional e, seus costumes se diferenciavam dele em determinados pontos. Foi nesta conjuntura que “a palavra de Deus fez-se ouvir a João, filho de Zacarias”, no deserto para onde o Espírito Santo o havia encaminhado. São Lucas mostra então que João deixou sua solidão e se pôs a pregar na populosa região do rio Jordão Multidões vinham até ele para se fazer batizar. Este rito era muito comum naquela época e exprimia um ideal de pureza moral rumo a uma purificação radical. O batismo joanino tinha aspectos característicos, mesmo porque era dado por um jovem profeta em nome de Deus que o havia enviado. Para ele a conversão era o pressuposto indispensável, pois seus discípulos não deviam se contentar em proclamar seu ideal pelas abluções rituais. Era preciso deixar sua vida pecaminosa e voltar-se resolutamente para Deus, para cumprir sua vontade e se preparar para o perdão dos pecados A força persuasiva de João era tal que ela evocava irresistivelmente outra grande voz profética ouvida cinco séculos antes, no fim do exílio de Babilônia, a saber, o profeta Isaías. Era um clamor da parte de Deus, uma mensagem auspiciosa de esperança e de conversão. Advertência solene: “Preparai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas. (Is 40,3). Tratava-se da vinda do Deus libertador, cuja glória iria se revelar. Como Isaías, João Batista anuncia a mesma boa nova. É de se notar que o Precursor do Messias não diz: “Convertei-vos para que venha o Salvador”, mas proclama abertamente: “Convertei-vos porque Ele vem”. Está próxima esta realidade sublime e é preciso se purificar para caminhar com Ele. Aí esta o sentido do Advento que prepara os fiéis para o Natal, para festejar o Filho de Deus que veio e vem sem cessar no meio dos que O receberem com o coração sincero. Entretanto. acolher o Messias de Deus como redentor, é aceitar estar a seu lado. Marchar com Ele que quer conduzir seus seguidores para o país da glória eterna, rumo ao amor do Pai. Com Jesus será possível atravessar o vale de lágrimas e vencer todos os obstáculos que impeçam de se chegar ao Reino eterno. O cristão deverá então aplainar sempre as rotas que levam até a eternidade, encher os vales da desesperança, abaixar os montes do orgulho e da vaidade, endireitar passagens tortuosas, tornar planas as escabrosas. É que Jesus veio e vem para redimir, mas esta salvação supõe o esforço contínuo da conversão pessoal. Uma certeza fulgurante paira para todos, ou seja, Jesus estará sempre a seu lado, ajudando, defendendo, protegendo, levantando, se houver alguma queda inesperada. Na Eucaristia ele se tornou o Pão da vida, fortalecendo, iluminando para que jamais o desânimo impeça que Ele esteja sempre com quem muito O ama. Não se pode, porém, nunca esquecer que Deus concedeu a todos uma voz para anunciar a chegada de Jesus, pés para com Ele percorrer as vias da santidade, mãos para ajudar o próximo nesta árdua tarefa rumo à perfeição de vida, inteligência para compreender as verdades reveladas e um coração para amá-lo e ao próximo.. É sobretudo no Advento que cada um deve se conscientizar de que é ´embaixador de Cristo e mensageiro da Boa Nova do Natal do divino Redentor.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

   

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