Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

03/maio/2016
Registros de uma Romaria

Celebramos em Urucânia, a XXVI Romaria Arquidiocesana dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, no último dia 1º de maio.

Foi um evento concorrido, com presença de uma multidão calculada em mais de 3.000 pessoas, entre romeiros e trabalhadores, celebrando o dia do trabalhador e a chegada da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida à Região Leste da Arquidiocese.

As “falas”, buscando nos fortalecer, no exercício da fé e da cidadania, para as lutas por vida e direitos, aconteceram ao início da caminhada, no lugar da concentração, à entrada da cidade de Urucânia. Dali, seguimos, em festiva caminhada, com cânticos, orações e slogans em direção ao Santuário de Nossa Senhora das Graças, onde dom Geraldo, nosso arcebispo, com mais 12 sacerdotes concelebrantes, presidiu a eucaristia.

Antes, à luz do tema: “Casa comum, reconstruir e defender a vida” e do lema: “Quero ver brotar a água sobre a terra e nossos direitos com bênção”, ouvimos dos oradores, leigos e sacerdotes, que o poder e o lucro não podem sobrepor à vida como critérios de organização social; que um mundo melhor exige mudanças do atual modelo de produção e consumo; que a lama, que veio de Mariana, com a barragem rompida, trouxe dor e morte, ceifando vidas e destruindo a bacia do rio doce e que este crime não pode ficar impune; que é preciso combater toda forma de corrupção e atentado à democracia, todo revés nas conquistas sociais do trabalhador/a; que precisamos melhor nos organizar para lutar em defesa da vida e do planeta, por saneamento básico; que não podemos abaixar a cabeça e achar que tudo é normal, precisamos fazer a nossa parte, como cristãos e cidadãos; que a Igreja não pode recuar de sua missão na transformação da sociedade e que ela precisa aliar, com renovado ardor, seu discurso a uma prática libertadora, por justiça, dignidade e vida.

Fomos conclamados também a assumir nossa responsabilidade com a “casa comum”, nosso Brasil e todo o planeta, entendendo que “os cuidados para com a casa não devem ser obrigação tão só da mãe, mas de todos da família”.

Destaque foi dado ao protagonismo da mulher trabalhadora, lutadora em casa e na sociedade, vítima, muitas vezes, de violências e preconceitos.

Em sua homilia, dom Geraldo nos recordou que o trabalhador/a é um sujeito de direitos, não pode ser tratado como objeto ou mesmo como máquina. Ele não existe para o trabalho, mas este, sim, se reveste de sentido e dignidade porque realizado pelo ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. Ele ainda trouxe à memória os dez anos de falecimento de dom Luciano, iniciador da Romaria e exemplo de entrega e doação a esta causa. Por fim, lembrou que esta celebração, dentro do Ano da Misericórdia, é a celebração do Jubileu dos trabalhadores e trabalhadoras da Arquidiocese de Mariana.

Agradecemos os organizadores e apoiadores deste evento – grupos eclesiais, pastorais, região leste, organismos e movimentos sociais, lideranças do campo e da cidade, sobretudo a comunidade anfitriã de Urucânia e seu pároco pe. Dario Chaves, pelo carinho, competência e dedicação, dando-nos testemunhos de verdadeira acolhida, fraternidade e alegria em servir.

À Padroeira do Brasil confiamos nossos trabalhadores e trabalhadoras, nossas comunidades e famílias. Sua presença, como mãe de Jesus, recordava dom Geraldo, anima nossas lutas, nos desperta a dizer sempre SIM ao chamado de Deus e a acolher o conselho que dá aos serviçais, nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que ele vos disser”.

Voltamos, para nossas comunidades, cientes das dificuldades e do momento delicado que vivemos, mas renovados em nossa fé e na alegria de anunciar a todos o evangelho da vida; anunciar, com a palavra e o testemunho das obras, o amor e a misericórdia de nosso Deus e Senhor que deseja, a partir do pequeno e do necessitado, nosso irmão/a, que todos tenham vida e a tenham em abundância.

Pe. Marcelo Moreira Santiago

   

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